Falta
aos cônjuges modernos, mesmos católicos a confiança em Deus. Temos o direito de
exprobrar-lhes a falta de generosidade e de esperança. O tremendo egoísmo
burguês dessorou os corações. O filho já não é “mais um criado” das antigas
participações de nascimento do interior do Brasil. O filho é hoje
economicamente encarado, “um herdeiro”. Vê-se no filho a nascer mais um leito,
mais um prato, mais uma mensalidade de colégio. Pior ainda, talvez: “mais um
trabalho”. A própria mãe é quem teme e se queixa.
As queixas mais lamentáveis para lábios
maternos: está envelhecendo; não pode mais frequentar a sociedade; não tem mais
tempo para nada; as senhoras antigas podiam ter muitos filhos, mas hoje não! É
a linguagem do egoísmo gélido e desalmado. E isto é tanto pior quanto são os
aquinhoamentos da fortuna que mais se queixam. Outros experimentam reais
dificuldades. Cresce-lhes a família e não se lhes aumentam os meios. A
continuar assim, temem chegar à penúria.
A uns e outros lembramos que a generosidade
divina não se deixa vencer. Retrai-se diante dos que retraem. Mas não terá
limites com os que põem no Pai toda a sua confiança. “Quando Deus dá a boca, dá
o prato”, diziam os nossos antigos, muito mais cristãos do que nós. E o Livro
Sagrado afirma na palavra do Salmista: “Nunca vi o justo abandonado, nem a sua
descendência a mendigar o pão” (Sl. 36,35). As dificuldades econômicas ou
pessoais com uma família numerosa são largamente compensadas. Os que querem
filhos bem educados só têm que desejá-los numerosos. É a família numerosa o
melhor ambiente para uma boa educação. Importa, porém, não confundir a boa
educação, formadora de homens fortes, viris e santos, com as facilidades que
servem apenas para fazer comodistas, gozadores e maricas.
Os bons cristãos não se satisfazem com não
pecar pelo escândalo infundado que venha a provocar seu procedimento correto.
Querem dar bom exemplo: que seu procedimento brilhe como a luz do Evangelho,
posta sobre o alqueire. Os seus muitos filhos serão estímulo à covardia de uns,
à falta de confiança de outros. Mais. Para os bons cristãos o matrimônio é um
Sacramento: coisa sagrada, fonte eficaz das graças divinas, figura da mística e
real união entre Cristo e a Igreja. Ao administrar-se este sacramento, a Igreja
expressou aos cônjuges seus sentimentos a este respeito.
Está na bênção nupcial que a esposa seja
“fecunda em prole” e “como vide abundante”; que os filhos “estejam em redor da
mesa, como rebentos de oliveira”; e nisto estão as bênçãos de Deus: “assim será
abençoado o homem que teme o Senhor”. A estes ensinamentos cristãos refere-se a
Encíclica Casti Connubbi: “Daí se vê facilmente quão grande dom da bondade
divina e quão precioso fruto do matrimônio sejam os filhos, germinados da força
onipotente de Deus e com a cooperação dos cônjuges”. E, mais expressivamente ainda:
“Os cônjuges verãos nos filhos, recebidos com ânimo pronto e reconhecido das
mãos divinas, um tesouro que lhes foi confiado por Deus, não para dele
servir-se em sua própria vantagem nem da pátria terrena, mas para restituí-lo
depois, com juros, no dia da prestação final das contas”. É, sem dúvida, a
perfeição cristã. E a perfeição não se impõe. Mas se aconselha. E tem-se o
direito de esperar dos bons cristãos, principalmente quando o mundo tanto
precisa de bons exemplos e de ação regeneradora.
Fonte: Noivos
e Esposos – Pe. Alvaro Negromonte – págs 106-108
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