Testemunhar e anunciar a mensagem cristã, conformando-se com Jesus Cristo. Proclamar a misericórdia de Deus e suas maravilhas a todos os homens.

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domingo, 13 de abril de 2014

Homilia do Domingo de Ramos (Missa)


  Alguns momentos e expressões do Relato da Paixão segundo São Mateus que acabamos de ouvir nos chamam muito a atenção. O primeiro deles é a pergunta de Judas aos sumos sacerdotes: “O que me dareis se vos entregar Jesus?” A pergunta do então apóstolo é constrangedora, como que a dizer: “Eu troco Jesus por alguma coisa, qualquer coisa que queiram me dar”. Oferecem a ele dinheiro e combinam 30 moedas. Diz o Evangelho que a partir dali, Judas procurava uma oportunidade para entregar Jesus... Infelizmente ainda vemos cristãos assim: trocam o Senhor por muitas coisas e até colocam o lucro, o dinheiro, o trabalho acima das coisas de Deus.

  Numa outra parte, Jesus diz que seus apóstolos ficarão decepcionados por causa dele. É verdade até hoje: o caminho que Cristo nos apresenta não agrada a todos. Muitos se decepcionam porque acreditam num cristianismo sem dor, sem sofrimento, sem paixão. Creem eles apenas na prosperidade, na abundância e fogem do Cristo Crucificado, abandonam Jesus. Como Pedro e os outros discípulos podemos até dizer que não O abandonaremos, mas como é difícil permanecer fiel no momento de provação! Pedro e quase todos os apóstolos tombaram, menos São João. E nós? Também vamos deixar Jesus no momento difícil da vida? Vamos nos decepcionar com Ele?

  Ao subir o Getsêmani, Jesus sofreu uma terrível tentação. Ele sabia que seria abandonado pelos amigos, rejeitado por parentes, condenado pelas autoridades e morto de forma bárbara. Neste momento passa no jardim por uma profunda tristeza e angústia. Que cena espantosa, irmãos! Jesus, o Filho de Deus, quis passar pela tristeza, passar pela angústia. Ele tanto se sentiu mal que chegou a dizer: “Minha alma está triste até a morte”... Imaginem: Jesus se deixou invadir pelos piores sentimentos humanos de pavor e depressão. Quantos sofrem hoje também da tristeza que mata, da angústia que causa a aridez e o desânimo; quantos são os que sofrem as dores de uma morte. Cristo está lá, padecendo tudo isso e nos deixando um modelo de superação. Ele está aqui, ao seu lado, ao meu lado para nos ajudar em nossas piores agonias!

  Normalmente o jardim é o lugar de descanso, aprazível. Existem flores, bom odor e paz. O jardim de Jesus não; ao invés disso teve suor de sangue, dor, angústia, depressão e um beijo falso. Queremos um jardim diferente daquele do Senhor, rejeitamos a sua vida na nossa vida, a sua cruz na nossa cruz... Traição, abandono, crueldade tudo isso Nosso Senhor sofreu. Tudo com um único intuito: dar glória a Deus e demonstrar amor a todos os homens. Quanto hoje sofremos para amar de verdade? Como demonstramos nosso amor?

  Outro momento interessante é o de Pedro. Antes promete fidelidade a Jesus e noutra diz que não o conhece... Essa é uma realidade na nossa vida cristã: podemos até estar na Igreja, podemos mesmo servir em pastorais e movimentos, mas ainda assim, publicamente não testemunhar o Senhor na vida, no meio da sociedade, diante de todos. Sem adesão aos planos de Deus, sem uma comunhão de fé e de amor pelos sacramentos, sem uma busca de vida nova, não conseguiremos seguir os passos do Senhor de perto.

    O seguimento a Jesus não é um seguimento meramente afetivo, sentimental, mas amoroso em seu sentido pleno. Quem segue a Jesus por gostos e conveniências, por meras emoções ou achando que a Igreja é um clube social de amigos com algo comum, se engana, se decepciona e logo abandonará o Cristo e sua Igreja. Não seguimos o Senhor por títulos, cargos ou outras humanidades; isso é a lógica do mundo! Jesus não nos engana, nos disse que ser seu discípulo seria uma obra difícil e comprometedora: “Vigiai e rezai, para não entrardes em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é fraca”. Se não estivermos unidos a Jesus por sua Igreja e por seus sacramentos, podem estar certos de que não teremos força suficiente para vencermos as fraquezas da alma e do corpo humano. Pensamos muitas vezes em Deus como Aquele Rei triunfante que vai vencer os romanos e dar liberdade à Terra de Israel, como pensavam os judeus, isto é, pensamos a Deus como um “fazedor de milagres”, um taumaturgo, Aquele que me dará o que quero, que me concederá um bom padrão de vida, uma existência sem sofrimento ou sem dor, um paraíso terrestre no qual nossa vida seria só felicidade e prazer... No entanto, neste sentido, o Senhor nos desaponta; porque não faz as nossas vontades, nem nos dá uma vida sem dores ou sofrimentos, nem uma existência sempre prazerosa e feliz, mas simplesmente uma vida, digna de ser vivida e consumida por amor e para amar, como a d’Ele.

  Agora podemos, com mais autoridade, entrelaçar o primeiro Evangelho lido, antes da procissão de Ramos e este que acabamos de ouvir: A vida cristã não é só maravilha da graça, felicidade sem limites e alegria eterna, mas sofrimento e dor, tensão entre o viver e o morrer, entre o servir ao verdadeiro Senhor ou aos ídolos fabricados por nós mesmos. Quão efêmera, quão infantil é, por vezes, nossa fé; cremos não porque é o Senhor, mas cremos porque estamos interessados nas benesses do seu reino, naquilo que podemos obter de Deus. Fé interesseira, falsa e vazia.

  Estejamos atentos: os ramos verdes murcharão rapidamente! A euforia da presença de Deus passará. O “Hosana” entusiasmado se transformará logo num grito furioso e cruel: “crucifica-o, crucifica-o”. Os votos de acolhida, “bendito o que vem em nome do  Senhor”, poderão rapidamente dar lugar a um covarde brado: “Fora com Ele, solta-nos Barrabás”.

  Por que essa mudança tão repentina? Por que a multidão gritou diferente? Por que a vontade do povo se transformou de uma hora para outra? Por que Deus foi traído e abandonado? A resposta é que na vida de Cristo e, por conseguinte, na vida do cristão, “exaltação” e “humilhação” estão sempre conjugadas e é fácil ser fiel e manter-se alegre na exultação, mas é bem difícil e desafiador manter a serenidade e a fé nos momentos de dor, de humilhação. Precisamente porque não vigiamos nem oramos como convém, é que nos entregamos, com facilidade, à inconstância, à perversidade e à imprevisibilidade: somos capazes do maravilhoso e do belo e somos também capazes do terrível e do feio.

  Diante de tudo isso, o que pensar? O maior gesto e o maior sentimento que se sobressai aqui, não é o pecado dos homens. Seja a traição de Pedro, a covardia dos Apóstolos ou a maldade da multidão, não é a conivência com o mal de Herodes e Pilatos ou o desespero de Judas, mas o que realmente se impõe como o maior dos gestos, é o amor de Deus: só um infinito e belo amor pode explicar as desconcertantes humilhações e loucuras do Filho de Deus.


  Caríssimos, ao entrarmos em Jerusalém com Cristo, nesta Semana Santa, acompanhemos não somente seus últimos passos históricos entre nós, mas sobretudo imitemos seu amor autêntico e perseverante. Um amor que se dá até doer, sem voltar atrás, sem diminuir ou sem exigir nada. A Paixão de Jesus possa nos dar conforto na dor, força na caminhada e esperança para o futuro. Que a Virgem Santíssima, mulher da dor e do amor, interceda por nós e nos ajude a acolher na pequena ou grande Jerusalém do nosso coração, o Rei que deseja entrar. Amém.

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