I. Fé e Batismo
no Novo Testamento
No Novo
Testamento não encontramos apenas esta sequência anúncio-fé-batismo, como se
estas etapas estivessem rigorosamente delineadas. Os dados do NT são mais
complexos que o suposto. Esta relação fé-batismo é tal que São Paulo atribui
por vezes o mesmo dom salvífico, tanto à fé como ao batismo. Segundo o NT não
há dúvidas quanto à relação íntima e indissolúvel entre fé e batismo. Fé e
batismo constituem um único acontecimento total pelo qual o Homem é libertado
do pecado e é colocado sob o domínio de Cristo. Um estudo sobre a relação
fé-batismo mostra como no NT se apresentam três modelos na relação entre
fé-batismo:
1º A fé conduz ao batismo e encontra nele a forma mais
adequada e a expressão mais visível. Aqui a fé precede o batismo e acompanha-o;
2º O batismo fomenta um novo início de fé;
3º O batismo dá a fé: tal é o sentido das afirmações em
que o batismo é descrito como “iluminação”. O batismo abre o olhar do homem
para a Luz que é Cristo. A fé pode e deve seguir (-se) ao batismo.
É um erro ver a
fé e o batismo, como duas alternativas ou escolhas autônomas, pois são faces da
mesma moeda, dois aspectos de um mesmo acontecimento. Na verdade a fé é já
sacramental enquanto orienta para o batismo e enquanto é acontecimento de graça
na vida da pessoa e enquanto acontece mediante o testemunho da comunidade. E o
batismo explicita a fé e dá origem à fé. Ele é sacramento da fé enquanto
exprime e realiza aquela inserção em Cristo e na Igreja a que se chegou pela
fé. Por isso a polêmica sempre frequente nas secretarias paroquiais: muitos até
querem o batismo, mas não desejam, de fato, professar a fé católica. Pais
despreparados e padrinhos ainda mais!
II. Fé e batismo
de crianças
Podíamos tirar
algumas conclusões a respeito daqueles que objetam que o batismo das crianças
atenta à relação entre fé e batismo:
1º De um ponto de vista bíblico e dogmático, o batismo de
crianças é um uso possível e legítimo. O terceiro modelo das relações
fé-batismo, a que nos referimos atrás, faz ver como o primeiro início da nova
vida não depende de pré-realizações humanas, nem do ato consciente de fé, mas
somente da livre iniciativa e da ação de Deus. Não só o batismo, mas também a
fé é dom.
No acontecimento
batismal é o próprio Deus que age, enquanto é Ele que pelo Espírito Santo dá
uma fé cristã e plena. N’Ele se exprime, em dimensão visível e eclesial, o dom
da inserção duma existência na história da salvação em Cristo. Na medida em que
se reconhece isto, em princípio, não há motivo dogmático sério, para negar esta
graça à criança. Neste sentido, o batismo da criança é o testemunho da
gratuidade absoluta da eleição e do amor de Deus que nos precede. Daí a
importância do progresso nesta fé que será levada à cabo pelos pais e padrinhos
da criança que ainda não tem consciência plena de seu batismo.
2º Todo o dom de Deus implica um empenho ou missão da
parte do homem. No novo início do batismo permanece a obrigação de o tornar
pessoal e vivê-lo sempre de novo. A Igreja, enquanto comunidade de fé e de
graça, como cada um dos seus membros - sobretudo através dos pais - tem a
obrigação de velar, exigir e procurar que a relação fé batismo seja conservada
na prática do melhor modo possível, que o ser em Cristo do neobatizado possa
exprimir todas as suas potencialidades. O batismo de crianças só tem sentido
num ambiente de fé, como já o reconhecia o Concílio de Trento ao proibir que
fossem batizadas as crianças filhas de infiéis.
Portanto, ao
afirmar a possibilidade e legitimidade do batismo de crianças não se quer
justificar a práxis tornada tradicional ou fechar as portas a uma nova práxis
pastoral. Trata-se de uma questão que pertence à pastoral esclarecer e resolver
em função das condições sociais e eclesiais duma região ou época. A última
palavra pertence ao juízo pastoral da Igreja, pelo Bispo e pelo Pároco, mas não
cabe aos leigos.
3º Não se deve esquecer que o batismo permanece sempre
como sacramento do início da existência cristã, de certo modo comparável ao
ingresso na vida humana pelo nascimento. Quer dizer, “ser batizado” não
significa estar já plenamente convertido, mas trata-se do início de uma
existência cristã, isto é, crística e eclesial. “Em todos os batizados,
crianças ou adultos, a fé deve crescer depois do Batismo. É por isso que a
Igreja celebra todos os anos, na Vigília Pascal, a renovação das promessas do Batismo.
A preparação para o Batismo conduz apenas ao umbral da vida nova. O Batismo é a
fonte da vida nova em Cristo, donde jorra toda a vida cristã” (CIC 1254).
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