Na
Igreja Católica o saber, o conhecimento, a doutrina não se dá por
“substituição”, mas por “aglutinação”; vamos unindo um saber ao outro e nenhum
elimina o anterior. Pelo contrário, se vai pouco a pouco aumentando sua
compreensão a partir de verdades eternas. Algumas tradições da Igreja, porém,
acabam caindo-se no esquecimento ou na falta de uso sem, contudo, perder seu
significado e importância. O piedoso uso do véu, pelas mulheres, é um exemplo disso.
Seria este um mero capricho, ou um excessivo apego a um formalismo ritual? Um
retorno à uma Igreja tridentina? Temos aqui exatamente duas posturas, duas
visões diferentes do mundo e da própria Igreja e, portanto, do seu ritual. São
praticamente duas atitudes básicas diante do Sagrado: ou conservamos aquilo que
é simbólico ou abolimos o simbólico e o substituímos. Na atualidade, o véu foi
esquecido e abandonado e não substituído por nenhum outro símbolo de modéstia e
reverência. Pior: perdeu-se até a modéstia, o pudor, o recato em certos
ambientes. Roupas constrangedoras passeiam pelas nossas Igrejas sem nenhum
problema...
Neste sentido, podemos afirmar que o véu tem
necessariamente um sentido e dimensão que ultrapassam o uso cultural ou
qualquer distinção discriminatória para com o sexo feminino. Ele apenas
protegerá a mulher, lhe dará um sinal de dignidade, de beleza velada, de
modéstia, de humildade e reverência. Por que reduzir o mistério a simples
categoria sociológica, histórica, sexual ou cultural? Por que se adotam
interpretações racionalistas e materialistas a uma dimensão que ultrapassa o
tempo e o espaço? Ou o Sagrado está para além do concreto ou não existe! O
Sagrado evidentemente se expressa e se manifesta no mundo, mas está além dele!
O véu seria então um símbolo, um sinal através do qual somos remetidos para um
outro significado além dele; é um meio para ir a outra dimensão; chamemo-lo
então: o sagrado. Por outro lado, o véu como elemento isolado não tem nenhum
atributo especial ou mágico em si mesmo. Isto seria um erro grosseiro. Ele
representa muito mais, é uma atitude, uma disposição, uma escolha. Quando uma
moça, uma mulher aceita o véu, escolhe o véu, escolhe, na verdade, um estilo de
vida: busca de castidade, busca de santidade, busca de Deus.
Neste ponto se abre uma porta por onde
podemos contemplar outra realidade, porque sendo uma atitude, isto significa
escolha. Se há escolha, há liberdade. Aqui entram em jogo dois atributos dados
especialmente ao homem: liberdade (de escolher) e inteligência (para
compreender). Tem importância para a mulher o uso do véu na Igreja durante a
liturgia? A prática católica afirma que sim. O rito litúrgico vai depender da
liberdade de ir até ele e além dele, como da participação por meio da
compreensão. O primeiro ponto é que reconhecendo o véu como símbolo, não se
pretende esgotar todos os seus significados, porque não tem apenas um
significado, mas vários, muitos... Podemos aqui sugerir alguns:
1.
A Virgem Maria
Na saudação do anjo Gabriel a Maria, para
comunicar-lhe que seria a Mãe de Deus na terra, Deus escolhe uma mulher. E aqui
fica definido qual é a relação da humanidade, e especialmente da mulher, diante
de Deus. O anjo lhe diz: "O Espírito Santo virá sobre ti e o poder do
Altíssimo te cobrirá com a sua sombra". A mulher, portanto, diante de
Deus, é receptiva e não passiva, posto que ela aceita, a vontade dela disse
sim. "Faça-se em mim conforme sua palavra". O véu vai significar
claramente a aceitação da Palavra de Deus. A mulher é naturalmente mais
receptiva que o homem. Tem já o dom de gerar filhos; isto a torna co-partícipe
na criação do mundo. Ela recebe o filho, isto não é nada passivo, muito pelo
contrário. A mulher, portanto, é “coberta” por Deus, é um ser potencialmente
mais "espiritual" que o homem.
2.
Os Véus na Igreja
Costuma-se cobrir o Sacrário por um véu –
símbolo do Senhor que está velado sob o “véu do sacramento”; é o mesmo Cristo
Senhor, mas não o Cristo histórico, mas sim o sacramental, que está presente em
Corpo e Sangue, Alma e Divindade na Eucaristia.
O véu está também nas âmbulas, representando
a sacralidade que ali está. Não é apenas um recipiente, mas um lugar para
guardar o Senhor Sacramentado. Sem o véu, a âmbula demonstra que é um
recipiente sacro, porém não com glória. Coberta pelo véu, a âmbula demonstra
que Cristo lá está e sua glória também.
Nas bênçãos do Santíssimo, lá está novamente
o véu nos ombros do sacerdote ou diácono. Símbolo de que o que eles vão tocar é
sagrado, é santo e que com mãos puramente humanas, não se deve tocar.
Portanto,
o véu não é impedimento algum para a visão ou o toque, mas respeito, reverência,
fé e esperança de ir além dele para encontrar o Cristo. A mulher com véu vai
representar a fé em algo que não vemos, que está simplesmente encoberto!
3.
Maria, a própria Igreja
Deus escolhendo Maria para Mãe de Cristo e
Maria aceitando, se torna ela mesma o modelo de todos os cristãos, homens e
mulheres. A Igreja é uma mulher, é o Corpo que recebe o Cristo. Encarnando aqui
na terra Cristo se faz [carne]. Ele é concreto. Em Maria, a Mãe-Igreja, é que
recebemos o Cristo, gerado pelo Espírito Santo. A Igreja santificada e pura vai
conhecer o Cristo intimamente, de dentro. Isto só é possível pelo mistério, não
pode ser explicado, analisado, apenas vivido de dentro, como uma
Mulher-Mãe-Maria o vive.
Se Maria é a Igreja onde Cristo nasce, o
Cristo é a cabeça da Igreja, dirigida espiritualmente por ele; é a mulher com a
cabeça coberta, porque coberta por Cristo, vai nos ensinar a fazer todos a sua
santa vontade. O véu será submissão a Cristo, e não aos homens [...] Então a
mulher aceita amorosamente se entregar a Cristo, aceitando que ele a cubra.
Fonte:
Texto do Arcipreste Alexis, ampliado e adaptado por Pe. Helcimar Sardinha
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