A primeira fase do polêmico Sínodo
das famílias terminou. As discussões e os embates mais vigorosos também passaram
e agora é o momento das conversas e reflexões sobre o que aconteceu e o que
ficou. De um lado, religiosos ainda perplexos com tudo o que se discutiu e veio
à tona, de outro, o movimento de avanços que chutou várias vezes para o gol,
mas que apenas acertou na trave e promete numa nova oportunidade atacar com
mais técnica. A tarefa de agora, sem dúvida, é estudar o texto final dessa
primeira parte do Sínodo e traduzir na vida pastoral o que deve mudar na vida
do fiel católico. Uma coisa é certa: o Sínodo mostrou que há divergências
doutrinais no interior da Igreja e que estas devem ser sanadas através de
estudo, oração e obediência às Santas Escrituras. Não mudamos o tom da
evangelização mudando os ensinamentos de Jesus.
Realizou-se nesta terça-feira (21), em Roma,
uma importante mesa redonda para tratar dos resultados do Sínodo com o tema: “A
esperança da família - O Sínodo e depois”, realizada na UER- Universidade
Europeia de Roma, no âmbito dos encontros organizados pelos “Círculos Culturais
João Paulo II”. A mesa redonda foi introduzida por Antonio Gaspari, diretor
editorial de Zenit; os palestrantes foram o Cardeal Gerhard Ludwig Müller, Prefeito
da Congregação para a Doutrina da Fé; Dom Luigi Negri, Arcebispo de
Ferrara-Comacchio, presidente da Fundação Internacional João Paulo II para o
Magistério da Igreja; Dom Livio Melina, presidente do Pontifício Instituto João
Paulo II para Estudos sobre Matrimônio e a Família e de Miriano Constance,
jornalista e escritora. Todos os conferencistas colocavam como base da doutrina
acerca do amor e do matrimônio o bem da fé. Disse o Cardeal Müller numa das
passagens, citando outro Cardeal, Dom Fernando Sebastián: “No sacramento do
matrimônio os fiéis cristãos, homens e mulheres, celebram com a Igreja a fé no
amor de Deus presente e operante neles como membros da Igreja e colaboradores
de Deus na multiplicação da humanidade e da Igreja de salvação.”
Esses círculos e outras iniciativas
certamente se multiplicarão pelo mundo católico. O Papa Francisco trouxe para o
centro de nossa reflexão o dado da misericórdia e do acolhimento, tantas vezes
tratados de forma menos importante na Igreja. Entretanto, na prática pastoral,
ainda não chegamos uma conclusão do modo como se deve fazer tal acolhimento e
manifestar a misericórdia sem, contudo, diminuir ou tornar opaca a doutrina
salvadora de Jesus. Certamente não será transformando o cristianismo numa
instituição de mãos dadas com o secularismo que aumentaremos o número de nossos
fiéis. Basta ver a experiência da igreja anglicana que autenticou o “casamento
gay”, ordenou mulheres e deu comunhão para os recasados e, mesmo assim, não
cresceu. Ao contrário, houve uma sangria de fiéis para outras igrejas,
inclusive muitos para a Igreja Católica.
Ao intervir nesta mesa redonda, a jornalista
Constance Miriano disse: “Tudo bem misericórdia para com os divorciados, mas é
preciso dá-la também às crianças. Deles se fala pouco, mas são as primeiras
vítimas quando os pais seguem caminhos diferentes”. A escritora explicou que a
sua atividade a leva a encontrar muitas famílias, e isso reforçou sua crença de
que “a moral cristã não é comparável a burguesa”; esta última constrói sua “catequese”
baseada em modelos de televisão e filme: modelos que geram decepção. E
acrescentou criando um neologismo: “O verdadeiro amor é fundado em Cristo e a
'realfabetização' do amor pertence à Igreja”. Também tomou a palavra Dom
Melina, que agradeceu ao Cardeal Müller pelo livro e pela coragem que demonstrou,
e lembrou um conceito do Beato Papa Paulo VI: a Igreja não inventa sua
doutrina, mas é sua intérprete e guardiã. “A quem nos chama a reconsiderar os
princípios da fé para torná-la mais adaptável aos nossos tempos - disse o
prelado - a Igreja só pode responder: ‘Non possumus’. Nós não podemos!”
O Cardeal Müller continuou mais à frente argumentando
sobre o vínculo indissociável entre a verdade e a prática. “A doutrina se
tornaria abstrata e prática arbitrária, se a Igreja fizesse a temporada de
desconto”, disse. “A misericórdia não pode ser uma ferramenta para resolver as
dificuldades contingentes: os pais se preocupam em educar, mesmo que às vezes
obrigados a dizer coisas que, naquele momento, não agradam os filhos”,
completou o purpurado.
Com informações do Portal Zenit
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