Os trabalhos do Sínodo dos
Bispos sobre a família, que decorrem no Vaticano, foram vividos nestes
primeiros dias num clima de debate aberto, mesmo em questões que dividem
opiniões, referem vários cardeais que participam na assembleia. O cardeal
Raymond Leo Burke, Prefeito do Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica é uma
das vozes mais críticas em relação a propostas de mudança relativas aos
divorciados recasados ou aos casos de nulidade matrimonial, refere à Rádio
Vaticano que estes dias foram de “trabalho muito intenso para enfrentar um
grande número de temas, talvez demasiados”. “Esperamos chegar a
esclarecimentos, obviamente baseados sobre o ensinamento perene da Igreja,
fundamento para uma pastoral sã”, acrescentou.
O cardeal norte-americano entende que um
Sínodo sobre o matrimônio e a família “deve, acima de tudo, dar uma mensagem
positiva” à Igreja e à sociedade. Para o Prefeito do Supremo Tribunal da
Assinatura Apostólica não seria necessário nem positivo agilizar os processos
de nulidade matrimonial, por se tratar de um assunto “muito importante”. “O
processo tem todos os elementos necessários para chegar à verdade com certeza
moral e quando há um pessoal bem preparado, este processo não dura demasiado e
não é contrário à pastoral”, precisou.
Alguns dos participantes no Sínodo dos Bispos
pediram que o recurso de uma decisão em primeira instância, sobre estes casos
de nulidade, deixe de ser obrigatório e que haja mais leigos, em particular
mulheres, nos tribunais eclesiásticos. O cardeal Pietro Parolin, secretário de
Estado, afirmou à Rádio Vaticano que o Sínodo tem sido vivido num “clima de
grande fraternidade e de grande liberdade”. O responsável deixa uma mensagem às
famílias em dificuldade, afirmando que “este não é o momento de perder a
esperança, este é o momento de entender que a Igreja e o Papa estão próximos”.
O cardeal Luis Antonio Tagle, arcebispo de
Manila, nas Filipinas, declarou que é preciso “ir ao encontro das pessoas,
especialmente das famílias, nas suas condições históricas concretas”. Em
relação à discussão sobre ‘situações pastorais difíceis’, o cardeal filipino,
um dos três presidentes-delegados da assembleia extraordinária, sustenta que
nenhuma solução proposta pela Igreja pode esquecer que “não há verdade sem caridade
e não há caridade sem verdade”. Já o cardeal Marc Ouellet, prefeito da
Congregação para os Bispos, aborda um dos temas mais mediatizados do debate
sinodal para sublinhar que “os divorciados recasados continuam a ser membros da
Igreja” e não se devem afastar dela “pelo fato de não poderem receber a
Comunhão”.
O padre Federico Lombardi, porta-voz do
Vaticano, explicou aos jornalistas que durante as sessões de trabalho houve
duas posições sobre o acesso dos divorciados em segunda união aos sacramentos. "Há
uma linha que fala com muita decisão do anúncio do Evangelho do matrimônio, o
qual exige a afirmação de que não é possível a admissão aos Sacramentos de
divorciados recasados, se tiver havido um enlace matrimonial válido”, explicou.
“Há outra linha que, não negando de modo algum
a indissolubilidade do matrimônio na proposta do Senhor Jesus, quer ver as
situações vividas na chave da misericórdia”, acrescentou o diretor da sala de
imprensa da Santa Sé. Os trabalhos do sínodo prosseguem agora em grupos linguísticos
denominados ‘círculos menores’ e na segunda-feira vai ser publicado o relatório
que sintetiza a primeira semana de debates com toda a assembleia.
Fonte: Agência Ecclesia
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