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segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Sínodo das Famílias: polarização eclesial e confronto entre pastoral e doutrina


  A III Assembleia Geral Extraordinária do Sínodo dos Bispos, sobre as famílias começou ontem e vai até o dia 19 de outubro próximo, no Vaticano. Antes mesmo de começar seus trabalhos neste Domingo, o “Sínodo sobre as Famílias”, como está sendo chamado, gerou uma enorme polêmica meses atrás. Depois da apresentação de uma proposta do Cardeal Walter Kasper, não só a “casa caiu”, mas também racharam-se outras edificações ao redor dela. Cardeais se dividiram em dois partidos, pró e contra Kasper, trazendo de volta ao Vaticano uma polarização que já não existia desde o período do Concílio Vaticano II. No meio destes dois partidos, Francisco. O próprio Papa havia encomendado a Kasper uma nota introdutória ao Consistório em fevereiro; e o cardeal apresentou não somente uma introdução à problemática das famílias atuais, como também uma hipótese “bomba”, na qual desconstruía a figura da indissolubilidade do matrimônio.

  Diante de todos os cardeais, Kasper falou sobre o tema da família e, na última parte de seu articulado discurso, apresentou a possibilidade (caso por caso, em determinadas circunstâncias e após uma caminhada penitencial) de se voltar a admitir a comunhão aos divorciados em segunda união, o que contraria as bases de uma pastoral fincada na doutrina bíblica. O discurso causou frisson entre os ouvintes e um certo constrangimento no ambiente. Passada a noite, com os ânimos mais acalmados, o Papa Francisco se dirigiu aos cardeais reunidos novamente e elogiou o discurso Kasperiano, dizendo que considerava que Kasper fazia “teologia de joelhos” e que em suas palavras havia encontrado “o amor da Igreja”. Nos meses seguintes o que se viu foi um embate entre os que acolhiam tal ideia e os que a rejeitavam. Sobretudo os cardeais ligados ao aspecto doutrinário e não a soluções vagas pastorais, condenaram tal postura e se puseram a escrever e a criticar publicamente os desvios morais dos argumentos do cardeal Kasper.

  As posturas amadureceram durante os meses e o confronto e o enfrentamento foram inevitáveis. Cinco cardeais tomaram a frente dos debates e em entrevistas, artigos e até em livros expuseram o pensamento tradicional da Igreja e os perigos que as teses kasperianas traziam ao Povo de Deus. Dom Cyril Vasil, Secretário da Congregação para as Igrejas Orientais, unido aos cardeais Carlo Caffara, arcebispo de Bolonha, Gerhard Ludwig Müller, Prefeitura da Congregação para Doutrina da Fé, o cadeal Raymond Leo Burke, Prefeito da Signatura Apostólica, e os cardeais eméritos Walter Brandmüller e Velasio De Paolis decidiram participar da defesa dos bens matrimoniais e da família. A inédita operação midiática (a que se somam também, na mesma sintonia, um texto do cardeal Angelo Scola e um livro que está para ser publicado do cardeal australiano George Pell) foi apresentada como uma resposta às aberturas que o cardeal Kasper apresentou como sendo pertinentes. O livro “Permanecer na verdade de Cristo” é uma exposição contundente sobre a indissolubilidade e gerou mais polêmicas.

  Na Missa de abertura do Sínodo, dia 5, o Papa Francisco deu uma “cutucada” nos dois partidos ao dizer: “somos chamados a trabalhar para a vinha do Senhor, no Sínodo dos Bispos. As assembleias sinodais não servem para discutir ideias bonitas e originais, nem para ver quem é mais inteligente… Servem para cultivar e guardar melhor a vinha do Senhor, para cooperar no seu sonho, no seu projeto de amor a respeito do seu povo”. Mesmo tendente à solução de Kasper, o Papa sabe da importância do momento e que deverá se posicionar num momento: “Ninguém diga: ‘Isto não se pode dizer, alguém pensará de mim isto ou aquilo…’ Fazei-o com muita tranquilidade e paz, porque o Sínodo decorre sempre cum Petro et sub Petro e a presença do Pai é garantia para todos e custódia da fé”, falou o Papa já no início dos trabalhos no dia seguinte e acrescentou: “Caros irmãos, colaboremos todos para que se afirme com clareza a dinâmica da sinodalidade”.


  Outra polêmica apareceu no dia de ontem quando se disse que os debates e exposições não serão feitos de maneira pública. Os resultados, em forma de resumo, serão apresentados ou pela Sala de Imprensa ou publicados no portal de notícias do Vaticano, o NewsVa. Vamos rezar e vamos esperar os resultados desse Sínodo. Verdade é que o Papa Francisco está numa “sinuca de bico” e deverá acertar as caçapas certas na hora certa.

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