A
festa litúrgica do Coração de Maria passou por muitas vicissitudes. De acordo
com a história, houve primeiramente uma devoção privada ininterrupta, que não
chegou a formas públicas oficiais. Efetivamente, a primeira festa
litúrgica do Coração de Maria foi celebrada a 8 de Fevereiro de 1648, na
diocese de Autun (França). Em 1864, alguns bispos pedem ao Papa a consagração
do mundo ao Coração de Maria, aduzindo como justificativa e motivo a realeza de
Maria. O pedido decisivo partiu de Fátima e do episcopado português.
Inesperadamente, a 31 de Outubro de 1942, Pio XII, na sua mensagem radiofônica
em português, consagrava o mundo ao Coração de Maria.
O Papa Paulo VI, a 21 de Novembro de 1964, ao
encerrar a terceira sessão do Concílio Vaticano II, renovava, na presença dos
padres conciliares, a consagração ao Coração de Maria feita por Pio XII. Mais
recentemente, João Paulo II, no fim de sua primeira encíclica, “Redemptor
Hominis” (4 de Março de 1979), escreveu um significativo texto sobre o Coração
de Maria. Ao tratar do mistério da redenção diz o Papa: “Este mistério
formou-se, podemos dizer, no coração da Virgem de Nazaré, quando pronunciou o
seu “fiat”. A partir de tal momento, este coração virginal e ao mesmo tempo
materno, sob a ação particular do Espírito Santo, acompanha sempre a obra do
seu Filho e dirige-se a todos os que Cristo abraçou e abraça continuamente no
seu inesgotável amor. E por isso este coração deve ser também maternalmente
inesgotável. A característica deste amor materno, que a mãe de Deus incute no
mistério da redenção e na vida da Igreja, encontra sua expressão na sua
singular proximidade do homem e de todas as suas vicissitudes. Nisso consiste o
mistério da mãe”.
A Exortação Apostólica “Marialis cultus”
(2/2/1974), do Papa Paulo VI inclui a memória do Coração Imaculado da
bem-aventurada Virgem Maria entre as “memórias ou festas que expressam
orientações surgidas na piedade contemporânea”, colocando-a no dia seguinte à
solenidade do Sacratíssimo Coração de Jesus. Essa aproximação das duas festas
(Sacratíssimo Coração de Jesus e Imaculado Coração de Maria) faz-nos voltar à
origem histórica da devoção: na verdade, São João Eudes, nos seus escritos,
jamais separa os dois corações. Aliás, durante nove meses, a vida do Filho de
Deus feito carne pulsou seguindo o mesmo ritmo da vida do coração de Maria. Mas
os textos próprios da missa do dia destacam mais a beleza espiritual do coração
da primeira discípula de Cristo.
Ela, na verdade, trouxe Jesus mais no coração
do que no ventre; gerou-o mais com a fé do que com a carne! De acordo com
textos bíblicos, Maria escutava e meditava no seu coração a palavra do Senhor,
que era para ela como um pão que nutria o íntimo, como que uma água borbulhante
que irriga um terreno fecundo. Neste contexto, aparece a fase dinâmica da fé de
Maria: recordar para aprofundar, confrontar para encarnar, refletir para atualizar.
Maria nos ensina como hospedar Deus, como
nutrir-nos com o seu Verbo, como viver tentando saciar a fome e a sede que temos
dele. Maria tornou-se, assim, o protótipo dos que escutam a palavra de Deus e
dela fazem o seu tesouro; o modelo perfeito dos que na Igreja devem descobrir,
por meio de meditação profunda, o hoje desta mensagem divina. Imitar Maria
nesta sua atitude quer dizer permanecer sempre atentos aos sinais dos tempos,
isto é, ao que de estranho e de novo Deus vai realizando na história por trás
das aparências da normalidade; em uma palavra, quer dizer refletir, com o
coração de Maria, sobre os acontecimentos da vida quotidiana, destes tirando,
como ela o fazia, conclusões de fé.
Fonte:
Dicionário de Mariologia, 1995 - Editora Paulus
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