Hoje
foi proclamado o novo rei da Espanha. Esta notícia não teria relevância nos
meios religiosos se não fosse por algo que aos olhos de muitos passou como
modernidade, mas que diante da tradição católica, passou como corte, desdém e,
para alguns, até afronta. Infelizmente poucos religiosos espanhóis se
pronunciaram contra o acontecido, outros preferiram exaltar as virtudes
pessoais do novo rei e pediram orações por ele. Na Espanha, um novo rei não é
nem coroado nem entronizado, mas deve prestar juramento diante da Câmara e ser
aclamado e aceito por esta. Entretanto, à parte esta estrutura laical, o rei é
convidado a portar um crucifixo e depois até a participar de uma Missa de Ação
de graças. Filipe VI rejeitou a ambas as coisas! A antiga filha da Igreja, a
Espanha, não é mais a mesma...
Felipe VI prestou um juramento em que se
comprometeu a “desempenhar fielmente as suas funções, guardar e fazer guardar a
Constituição e as lei e respeitar os direitos dos cidadãos e das Comunidades Autônomas”.
Seu pai e antecessor, o rei Juan Carlos, que abdicou do trono em seu favor, fez
o mesmo juramento, mas ao contrário do que aconteceu hoje, jurou com a mão sobre uma bíblia e ao lado de um crucifixo, colocando Deus em seu reinado. Hoje não
havia qualquer símbolo religioso na cerimônia de proclamação de Felipe VI, nem
mesmo uma referência aos valores cristãos do país que sempre fora declarado
católico.
A cerimônia de proclamação do rei Filipe VI
foi estritamente laica, um gesto aprovado por todos os segmentos agnósticos,
ateus e maçônicos da sociedade espanhola e tido por muitos intelectuais
anticlericais como demonstração da modernização de uma instituição identificada
durante séculos com o catolicismo. Analistas políticos consideraram a ruptura
inteligente e uma mensagem de que a coroa é neutra em uma sociedade
multirreligiosa. Será que vale mesmo ao novo rei o status de “moderno” e desacreditando
a fé de todos os seus antepassados? E a sua própria fé? Ele ainda é católico!
Aqui está o problema de muitos que se envolvem na política: haverá um momento
em que deverão escolher entre “César” e “Cristo” e, digo-o com tristeza, muitos
escolhem compactuar com César para manterem seu poder humano ou, pelo menos
hoje, midiático.
Com a decisão de recusar a celebração de uma
Missa no contexto dos festejos de hoje e de não portar um crucifixo e uma
bíblia durante a sua proclamação, o novo rei da Espanha demonstra, no mínimo,
um desrespeito à tradição católica daquele país e aos milhões de católicos que
ainda apoiam a monarquia espanhola. Depois das investigações e processos contra
a Infanta Cristina e seu marido e da queda do rei Juan Carlos, Filipe VI
deveria pensar bem em seus gestos e palavras. Não
será rejeitando a tradição católica e seus símbolos que fará com que os republicanos
e a esquerda o amem, nem resolverá a forte crise financeira que dilacera o país
há anos.
Interessante a questão: o verdadeiro Rei e Senhor do mundo, esse não rejeitou a cruz. Pelo contrário, a carregou com amor, com fortaleza e com fidelidade. O mundo de hoje também muitas vezes deseja rejeitar a cruz, rejeitar o sacrifício, a doação, a dor, a fraternidade, aquilo que custa e que é para nós motivo de virtude. A lógica do mundo é querer viver intensamente esta vida sem a cruz, sem o Cristo. Será que o gesto do rei espanhol não quis dizer exatamente isto? O que poderemos esperar de um rei sem cruz? A vida é feita também de contrariedades; se Filipe VI deseja não senti-las, como viverá nesta terra?
Muito triste. Ele colherá o que plantar
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