Junho
é o mês de Corpus Christi. É o mês da grande festa inteiramente dedicada a
Jesus Eucarístico. Também nós, como em todas as paróquias, estamos nos
preparando para celebrá-la no dia 22 de junho, visto que na Itália a quinta-feira
da Solenidade não é mais considerada como feriado. Mas vamos comemorar,
sobretudo, com a procissão solene após a Missa Solene cantada, levando para as
ruas da cidade a Hóstia Santa.
Esta deveria ser a procissão mais importante
do ano, porque nela não se porta uma simples estátua venerada da Bem Aventurada
Virgem Maria ou de um santo, não se porta uma relíquia, mas o próprio Jesus,
vivo e verdadeiro no Santíssimo Sacramento, vivo e verdadeiro com seu Corpo,
Sangue, Alma e Divindade. Esta procissão deveria ser solene, repleta de
adoração e de sacro respeito pelo Senhor que passa.
Certamente muitos sentirão aflorar as
considerações nostálgicas: agora na nossa terra já não é mais assim, não se
consegue mais fazer o Corpus Christi dos tempos passados; um tempo em que todas
as ruas eram decoradas, as paredes do percurso todas cobertas pelas mais belas
tapeçarias; e vocês se lembram dos altares das paradas? Era uma corrida para
fazê-los cada um mais lindo que o outro! E pessoas, como se ajoelhavam!
Sim, não é mais assim. Hoje já está bom,
aquele Corpus Christi é a procissão do pequeno resto de crentes que ainda
adoram a Santíssima Eucaristia. Para a procissão de Nossa Senhora talvez haja
esperança de aparecer um cristão a mais, mas para o Corpus Christi…! Estas são
todas considerações realistas, mas cometeríamos um erro se parássemos
melancolicamente apenas nelas, sem ir mais fundo.
Por que se perdeu o espírito de adoração? Por
que as almas de tantos batizados não reconhecem mais o Senhor que passa na
Hóstia Consagrada? Muitos entre os “conservadores” dirão que tudo
foi causado por alguns fatores: o deslocamento dos tabernáculos nas igrejas, os
altares que foram relegados para um canto qualquer; por não se fazer mais
genuflexão; por se receber a comunhão na mão e em pé; a redução e senão o
próprio desaparecimento do jejum eucarístico, etc… Tudo isso é verdade, mas não
chegamos ainda na causa mais profunda, real.
Na verdade, a missa foi se tornando cada vez
mais uma santa ceia, feita praticamente só para que padres e fiéis se
alimentassem nas “duas mesas”: a da Palavra e a do Corpo de Cristo. Em uma
palavra, a missa foi feita pra se fazer a Comunhão. Desapareceu,
assim, no cotidiano do povo cristão, o fato central e crucial: o Sacrifício de
Cristo na Cruz. Foi por isso que Jesus instituiu a Eucaristia, para que seja
perpetuado o seu oferecimento na Cruz, aquele único oferecimento capaz de
apagar os pecados e aplacar a justiça divina.
Todos os dias, nas igrejas do mundo inteiro,
é necessário que seja oferecido o Sacrifício de Cristo, para que o mundo seja
salvo do abismo. Mas o que isso tem a ver com a presença de Jesus na Hóstia
Consagrada, com adoração, com o Corpus Christi? Simples, se a Missa já não é
mais entendida como o Sacrifício de Cristo no altar da cruz, mas apenas como
uma refeição sagrada, o que se coloca em risco é a própria presença de Cristo
na Eucaristia. Um grande autor escreveu: “Existem duas grandes realidades na
Missa, que são o Sacrifício e o Sacramento. Estas duas grandes realidades se
realizam ao mesmo instante, no momento em que o sacerdote pronuncia as palavras
da consagração do pão e do vinho. Assim que ele termina de
pronunciar as palavras da consagração do Preciosíssimo Sangue, o sacrifício de
Nosso Senhor é realizado e naquele momento também está presente Nosso Senhor, o
Sacramento que é o próprio Senhor também está lá. (…) Essa separação mística
das espécies do pão e do vinho realiza o Sacrifício da missa. Portanto, essas
duas realidades se dão pelas palavras da consagração. É impossível separá-las.
E isso é o que fizeram os protestantes; eles queriam somente o sacramento sem o
sacrifício. No final, acabaram ficando sem um e sem o outro, nem sacramento e
nem sacrifício. Se não há mais sacrifício, não há mais a vítima”.
Palavras pesadas, mas muito razoáveis segundo
a fé. Sem ater-nos a delicadíssimas considerações sacramentais, podemos dizer
tranquilamente que, pelo menos no cotidiano dos cristãos, é precisamente isso
que aconteceu: o ofuscamento do caráter sacrificial da Missa fez com que fosse
perdida a consciência da presença substancial de Cristo no sacramento.
Adaptação do texto do Editorial de “Radicati nella fede” – Anno VII n° 6 –
Junho 2014.
Tradução:
Gercione Lima – Fratres
in Unum.com
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