Queridos irmãos e irmãs,
celebramos hoje em toda a Igreja, a Solenidade de Pentecostes, a vinda do
Espírito Santo sobre toda a Igreja. O documento “Paschalis Sollemnitatis”, de
16 de janeiro de 1988, em seu número 107, assim se expressa sobre este dia: “O
domingo de Pentecostes conclui este sagrado período de cinquenta dias, quando
se comemora o dom do Espírito Santo derramado sobre os apóstolos, os primórdios
da Igreja e o início da sua missão a todos os povos, raças e nações”.
Assim vemos que este domingo está intimamente
ligado à Páscoa do Senhor. O fruto da ressurreição de Jesus e de seu retorno
para junto do Pai, é o envio do Espírito Santo. Chamado no Antigo Testamento de
“Festa da Colheita” (Ex 23,16), o Pentecostes se caracterizava por ser uma
festa agrícola, celebrada sete semanas após o início das colheitas. Nesta
festa, realizada nas casas das famílias, as pessoas reconheciam Deus como fonte
de chuva e de fertilidade da agricultura e lhe ofereciam os primeiros frutos da
terra. Era um dia muito alegre, de partilha de dons e de ação de graças. Mais
tarde a celebração passou a ser a “Festa da renovação da Aliança” de Deus com o
povo (Dt 16,9-12) e passou a ser celebrada no Templo. No período da dominação
grega, a partir do século III a.C., esta festa recebeu o nome de “Pentecostes”,
isto é, cinquenta dias.
A partir de Jesus, todos esses eventos
ganharam novo significado: a colheita não é mais de elementos agrícolas, mas de
corações humanos; a Festa não é mais restrita aos judeus, mas a todas as nações;
a partilha não é mais de dons da terra, mas de dons espirituais; a ação de
graças não é mais pelo alimento apenas, mas pelo próprio Dom do alto concedido
a nós; não se renova mais a Aliança do Sinai, mas o Sacrifício de Cristo na
Cruz, perpetuado na Eucaristia.
Pentecostes é a Festa do Fogo: O fogo, feito
de luz e calor, era o melhor elemento para simbolizar o ardor próprio à ação
restauradora e entusiasmante do Espírito Santo. O fogo aquece, ilumina,
brilha... Como línguas de fogo é que o Espírito Santo quis pairar sobre a
cabeça de Nossa Senhora e dos Apóstolos, simbolizando a chama ardente de
caridade que ardia em seus corações. Este fogo deve arder em nós! Abrasados
pelo amor, com amor, para amar. Mas quantas vezes nos tornamos frios, tíbios,
cansados da virtude? Senhor Deus Espírito Santo, aquece-nos! Queima-nos no teu
amor!
Pentecostes é a Festa da conversão: Após
receber o dom do Espírito, São Pedro pregou à multidão que estava na cidade e
conseguiu a conversão de uma só vez de três mil fiéis! A conversão é obra do
Espírito. Só Ele pode mover os corações para a mudança de vida, de sentimentos,
de gostos. Só Ele pode mudar-nos por dentro e por fora e colocarmo-nos debaixo
da vontade divina! Mas esta conversão não é imposta! Temos que ser dóceis à ação
do Divino Paráclito. Alguns resistem à ação de Deus. Buscam sua satisfação, seu
bem imediato, seus prazeres sensíveis, à margem da Palavra de Deus... Ó
Espírito Santo de Deus, ajuda-nos a nos deixar seduzir por Deus e a abandonar
os males que nos cercam e que muitas vezes escolhemos!
Pentecostes é a Festa dos dons, das graças e
dos carismas: “Há diferentes atividades, mas um mesmo Deus que realiza todas as
coisas em todos”(1 Cor 12,6). Deus é muito criativo e concede seus carismas a
quem quer e como quer; para Ele não há barreiras, não há receios, não há
limites, não há preconceitos. O Espírito sempre dá o que deseja em todos os
tempos e a todos as pessoas. Faz maravilhas que não se podem imitar, nem
prever. Diante d’Ele, ninguém é judeu, grego, escravo ou livre, isto é, não
somos classificáveis, não temos títulos ou posições; somos enquanto estivermos
n’Ele. Os dons, no entanto, são para o serviço, para o outro, não para nos
engrandecer ou para nos satisfazer. Quem utiliza mal seu talento ou o perderá
ou nunca produzirá frutos maiores.
Pentecostes é a Festa do amor: O Pai é o que
ama, o Filho é o Amado e o Espírito é o Amor entre os dois. Esta relação
trinitária que a teologia chama de “via amoris” e que está em Deus, pode também
ser imitada por nós. Devemos ter pelas coisas de Deus e pelo próximo um amor
real e puro. Mesmo sendo difícil o processo de amar, este é um aprendizado para
toda a vida e será o Espírito de Deus a nos ajudar nesta tarefa desafiadora.
Este amor que aprendemos em Pentecostes também deve ser doado, de maneira
especial pela Santa Igreja Católica; um amor sem limites, que se traduza em
respeito por ela, em orações por ela e em ajuda concreta em todas as suas
necessidades.
Pentecostes é a Festa da Unidade: “Todos”
estavam reunidos, “todos” ficaram cheios do Espírito Santo e “todos” escutaram
a Palavra de Deus em sua língua... “Todos”. A obra do Espírito é esta: não
deixar ninguém de fora, incluir a todos na lógica do amor. Quando o Senhor Deus
Espírito Santo vem sobre a Igreja, vem sobre nós, vem para re-unir os que
estavam dispersos, vem para banir discórdias, brigas, rivalidades, ciúmes. Por
isso, se hoje é Pentecostes para você, reconcilia-te! Vai ao teu irmão e
implora com ele o Espírito sobre ambos para que as divisões e ressentimentos
não ganhem força, mas apenas o amor que tudo espera, tudo perdoa, tudo alcança!
Esta unidade, sobretudo, está em nossa fé católica. Quem não consegue manter e
defender a unidade da fé, seguindo a tradição ininterrupta dos apóstolos, esse
não tem o Espírito de Deus, mas do mundo.
Pentecostes é a Festa do Ressuscitado: Hoje é
o último dia da Páscoa. Como ouvimos no Evangelho, é da boca do Cristo
ressuscitado que procede o Sopro do Espírito: “E depois de ter dito isso,
soprou sobre eles e disse: ‘Recebei o Espírito Santo’”(Jo 20,22). O halitar do
Ressuscitado sobre os Apóstolos é dom de paz; o sopro de Jesus sobre eles é
remédio contra o pecado... Este “sopro”, o “ruah” que modifica tudo por onde
passa, concedendo vida ao que está morto, ao caído, é o Divino Espírito Santo.
Sopra sobre nós, Senhor, e mandai para longe o que é mal! Sopra para longe os
pensamentos maus, sopra para longe os sentimentos egoístas, sopra para longe de
nós o passado de maldade e as tentações do presente! E sopra sobre nós teus
dons, sopra sobre nós teu amor, sopra sobre nós tua santidade!
Queridos irmãos. Cheios da fé da Igreja, de
que aquele dia bem aventurado se faz atual hoje, aqui; peçamos o Espírito sobre
nós! Peçamos um derramamento abundante da graça de Deus sobre nossas famílias,
sobre o nosso trabalho, sobre tudo o que temos e somos. Que o Divino Senhor
impere sobre nós, mudando tudo o que precisa ser mudado.
Amém.
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