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domingo, 8 de junho de 2014

Homilia da Solenidade de Pentecostes


  Queridos irmãos e irmãs, celebramos hoje em toda a Igreja, a Solenidade de Pentecostes, a vinda do Espírito Santo sobre toda a Igreja. O documento “Paschalis Sollemnitatis”, de 16 de janeiro de 1988, em seu número 107, assim se expressa sobre este dia: “O domingo de Pentecostes conclui este sagrado período de cinquenta dias, quando se comemora o dom do Espírito Santo derramado sobre os apóstolos, os primórdios da Igreja e o início da sua missão a todos os povos, raças e nações”.

  Assim vemos que este domingo está intimamente ligado à Páscoa do Senhor. O fruto da ressurreição de Jesus e de seu retorno para junto do Pai, é o envio do Espírito Santo. Chamado no Antigo Testamento de “Festa da Colheita” (Ex 23,16), o Pentecostes se caracterizava por ser uma festa agrícola, celebrada sete semanas após o início das colheitas. Nesta festa, realizada nas casas das famílias, as pessoas reconheciam Deus como fonte de chuva e de fertilidade da agricultura e lhe ofereciam os primeiros frutos da terra. Era um dia muito alegre, de partilha de dons e de ação de graças. Mais tarde a celebração passou a ser a “Festa da renovação da Aliança” de Deus com o povo (Dt 16,9-12) e passou a ser celebrada no Templo. No período da dominação grega, a partir do século III a.C., esta festa recebeu o nome de “Pentecostes”, isto é, cinquenta dias.

  A partir de Jesus, todos esses eventos ganharam novo significado: a colheita não é mais de elementos agrícolas, mas de corações humanos; a Festa não é mais restrita aos judeus, mas a todas as nações; a partilha não é mais de dons da terra, mas de dons espirituais; a ação de graças não é mais pelo alimento apenas, mas pelo próprio Dom do alto concedido a nós; não se renova mais a Aliança do Sinai, mas o Sacrifício de Cristo na Cruz, perpetuado na Eucaristia.

  Pentecostes é a Festa do Fogo: O fogo, feito de luz e calor, era o melhor elemento para simbolizar o ardor próprio à ação restauradora e entusiasmante do Espírito Santo. O fogo aquece, ilumina, brilha... Como línguas de fogo é que o Espírito Santo quis pairar sobre a cabeça de Nossa Senhora e dos Apóstolos, simbolizando a chama ardente de caridade que ardia em seus corações. Este fogo deve arder em nós! Abrasados pelo amor, com amor, para amar. Mas quantas vezes nos tornamos frios, tíbios, cansados da virtude? Senhor Deus Espírito Santo, aquece-nos! Queima-nos no teu amor!

  Pentecostes é a Festa da conversão: Após receber o dom do Espírito, São Pedro pregou à multidão que estava na cidade e conseguiu a conversão de uma só vez de três mil fiéis! A conversão é obra do Espírito. Só Ele pode mover os corações para a mudança de vida, de sentimentos, de gostos. Só Ele pode mudar-nos por dentro e por fora e colocarmo-nos debaixo da vontade divina! Mas esta conversão não é imposta! Temos que ser dóceis à ação do Divino Paráclito. Alguns resistem à ação de Deus. Buscam sua satisfação, seu bem imediato, seus prazeres sensíveis, à margem da Palavra de Deus... Ó Espírito Santo de Deus, ajuda-nos a nos deixar seduzir por Deus e a abandonar os males que nos cercam e que muitas vezes escolhemos!

  Pentecostes é a Festa dos dons, das graças e dos carismas: “Há diferentes atividades, mas um mesmo Deus que realiza todas as coisas em todos”(1 Cor 12,6). Deus é muito criativo e concede seus carismas a quem quer e como quer; para Ele não há barreiras, não há receios, não há limites, não há preconceitos. O Espírito sempre dá o que deseja em todos os tempos e a todos as pessoas. Faz maravilhas que não se podem imitar, nem prever. Diante d’Ele, ninguém é judeu, grego, escravo ou livre, isto é, não somos classificáveis, não temos títulos ou posições; somos enquanto estivermos n’Ele. Os dons, no entanto, são para o serviço, para o outro, não para nos engrandecer ou para nos satisfazer. Quem utiliza mal seu talento ou o perderá ou nunca produzirá frutos maiores.

  Pentecostes é a Festa do amor: O Pai é o que ama, o Filho é o Amado e o Espírito é o Amor entre os dois. Esta relação trinitária que a teologia chama de “via amoris” e que está em Deus, pode também ser imitada por nós. Devemos ter pelas coisas de Deus e pelo próximo um amor real e puro. Mesmo sendo difícil o processo de amar, este é um aprendizado para toda a vida e será o Espírito de Deus a nos ajudar nesta tarefa desafiadora. Este amor que aprendemos em Pentecostes também deve ser doado, de maneira especial pela Santa Igreja Católica; um amor sem limites, que se traduza em respeito por ela, em orações por ela e em ajuda concreta em todas as suas necessidades.

  Pentecostes é a Festa da Unidade: “Todos” estavam reunidos, “todos” ficaram cheios do Espírito Santo e “todos” escutaram a Palavra de Deus em sua língua... “Todos”. A obra do Espírito é esta: não deixar ninguém de fora, incluir a todos na lógica do amor. Quando o Senhor Deus Espírito Santo vem sobre a Igreja, vem sobre nós, vem para re-unir os que estavam dispersos, vem para banir discórdias, brigas, rivalidades, ciúmes. Por isso, se hoje é Pentecostes para você, reconcilia-te! Vai ao teu irmão e implora com ele o Espírito sobre ambos para que as divisões e ressentimentos não ganhem força, mas apenas o amor que tudo espera, tudo perdoa, tudo alcança! Esta unidade, sobretudo, está em nossa fé católica. Quem não consegue manter e defender a unidade da fé, seguindo a tradição ininterrupta dos apóstolos, esse não tem o Espírito de Deus, mas do mundo.

  Pentecostes é a Festa do Ressuscitado: Hoje é o último dia da Páscoa. Como ouvimos no Evangelho, é da boca do Cristo ressuscitado que procede o Sopro do Espírito: “E depois de ter dito isso, soprou sobre eles e disse: ‘Recebei o Espírito Santo’”(Jo 20,22). O halitar do Ressuscitado sobre os Apóstolos é dom de paz; o sopro de Jesus sobre eles é remédio contra o pecado... Este “sopro”, o “ruah” que modifica tudo por onde passa, concedendo vida ao que está morto, ao caído, é o Divino Espírito Santo. Sopra sobre nós, Senhor, e mandai para longe o que é mal! Sopra para longe os pensamentos maus, sopra para longe os sentimentos egoístas, sopra para longe de nós o passado de maldade e as tentações do presente! E sopra sobre nós teus dons, sopra sobre nós teu amor, sopra sobre nós tua santidade!

  Queridos irmãos. Cheios da fé da Igreja, de que aquele dia bem aventurado se faz atual hoje, aqui; peçamos o Espírito sobre nós! Peçamos um derramamento abundante da graça de Deus sobre nossas famílias, sobre o nosso trabalho, sobre tudo o que temos e somos. Que o Divino Senhor impere sobre nós, mudando tudo o que precisa ser mudado.

Amém.

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