A descida do Espírito
Santo
Pentecostes era uma das festas tradicionais judaicas.
Nela se ofereciam a Deus os primeiros frutos das colheitas do campo. Tratava-se
de uma das três grandes festas chamadas da "peregrinação", pois nelas
os israelitas deviam peregrinar até Jerusalém para adorar a Deus no Templo. Os
judeus residentes no estrangeiro utilizavam da palavra grega pentekosté - que
significa quinquagésimo dia -, porque a festa era celebrada cinquenta dias
depois da Páscoa.
Encontravam-se arrebatados na oração quando
se fez ouvir um ruído estrondoso e um vento impetuoso. Em seguida, aparecem
línguas de fogo. Segundo uma piedosa e antiga tradição, a primeira língua de
fogo - a mais rica - pousou sobre a cabeça de Nossa Senhora, e a partir d'Ela
se multiplicou para os outros.
Por que essas manifestações exteriores? Deus
quis tornar visível o quanto era pleno o que ele entregava o ímpeto de amor, a
grandeza do dom que descia. "Uma forte ventania" pode ser vista como
a chegada da torrente de graças que estavam sendo derramadas sobre todos os
presentes. Eram graças místicas eficazes e superabundantes que
"encheram" o Cenáculo.
O fogo, feito de luz e calor, era o melhor
elemento para simbolizar o ardor próprio à ação restauradora e entusiasmante do
Espírito Santo. Ao pairarem sobre as cabeças de Maria e dos demais presentes,
as chamas se apresentavam sob a forma de línguas de fogo. Nelas podemos ver
simbolizadas as labaredas que a pregação daqueles varões suscitaria.
A graça do Espírito Santo muda todos
Diz a leitura que naqueles dias Jerusalém
estava repleta de judeus e não judeus vindos de todas as partes da Terra. Como
o ruído da ventania fora ouvido por toda a cidade, diante do Cenáculo
"juntou-se a multidão, e todos ficaram confusos, pois cada um ouvia os
discípulos falar em sua própria língua. Cheios de espanto e admiração, diziam:
‘Esses homens que estão falando não são todos galileus? Como é que nós os
escutamos na nossa própria língua?'". E São Lucas continua: "Estavam,
pois, todos atônitos e, sem saber o que pensar, perguntavam uns aos outros:
‘Que significam estas coisas?'. Outros, porém, zombando, diziam: ‘Estão todos
embriagados de vinho doce'" (At 2, 12-13).
São Pedro levantou a voz e disse ao povo:
"Homens da Judeia e vós todos que habitais em Jerusalém: seja-vos isto
conhecido e prestai atenção às minhas palavras. Estes homens não estão
embriagados, como vós pensais, visto não ser ainda a hora terceira do dia"
(At 2, 14-15). Estavam ébrios, mas de uma embriaguez divina, e proclamavam a
doutrina do Divino Mestre, pronunciando palavras de sabedoria, acerto, glória e
repreensão. "Mas cumpre-se o que foi dito pelo profeta Joel: ‘Acontecerá,
nos últimos dias...'" (At 2, 16-17). São Pedro recordou as profecias sobre
Cristo e o povo as conhecia e se impressionou, abrindo os corações à conversão.
São Pedro faz aqui, como Papa, a primeira proclamação de um dogma na História:
o da divindade de Nosso Senhor.
"Ao ouvirem essas coisas, ficaram
compungidos no íntimo do coração e indagaram de Pedro e dos demais Apóstolos:
‘Que devemos fazer irmãos?'. Pedro lhes respondeu: ‘Arrependei- vos, e cada um
de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados,
e recebereis o dom do Espírito Santo. Pois a promessa é para vós, para vossos
filhos e para todos os que ouvirem de longe o apelo do Senhor, nosso
Deus'" (At 2, 37-39). Foram batizadas três mil pessoas. Em poucas horas, a
Igreja passava a contar com mais de 3 mil membros. Era o início do apostolado
em sistema de "avalanche", que se multiplicaria quando os Apóstolos
começassem a fazer milagres. Em breve iam estender a evangelização por todo o
mundo antigo, e chegaria um momento em que o Império Romano inteiro estaria
cristianizado.
Pedir uma nova efusão de graças
Para iniciar o terceiro milênio da Era
Cristã, o Papa São João Paulo II quis publicar uma Carta Apostólica, assinada
na Praça de São Pedro em 6 de janeiro de 2001. Nesse belíssimo documento,
assinalamos o seguinte trecho: "Ao longo destes anos, muitas vezes repeti
o apelo à Nova Evangelização; e faço-o agora uma vez mais para inculcar,
sobretudo que é preciso reacender em nós o zelo das origens, deixando-nos
invadir pelo ardor da pregação apostólica que se seguiu a Pentecostes. Devemos
reviver em nós o sentimento ardente de Paulo que o levava a exclamar: ‘Ai de
mim se não evangelizar!' (I Cor 9, 16)".( São João Paulo II - in
"Novo millennio ineunte", n.40). Eis aí indicado o caminho para que
neste terceiro milênio a Igreja rebrilhe com uma luz ainda mais fulgurante que
nos séculos anteriores: "reacender em nós o zelo das origens, deixando-nos
invadir pelo ardor da pregação apostólica que se seguiu a Pentecostes".
Conclusão
Festa do amor de Deus, Pentecostes nos traz
esta mensagem: devemos ter pela Santa Igreja Católica um amor sem limites, que
se traduza em interesse candente por ela, em orações em obras de apostolado. Se
nós, católicos, formos assim, todos os males que afligem o mundo de hoje serão
vencidos. Assim como os Apóstolos, perseveremos com Maria Santíssima em oração,
pedindo que o Espírito de Caridade nos infunda aquele amor que os abrasou:
Emitte Spiritum tuum et creabuntur, et renovabis faciem terræ - Enviai, Senhor,
o vosso espírito criador e será renovada toda a face da Terra (cf. Sl 103, 30).
Adaptação
do texto publicado no Portal Gaudium Press
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