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sábado, 9 de março de 2013

O que a Igreja pensa sobre a doação de órgãos?



  Na moral católica, não basta que os fins sejam bons, é necessário também que os meios aplicados para se alcançar este fim sejam bons, assim toda a ação é boa e não apenas parte dela. Hoje em dia tem se divulgado muito as doações e alguns católicos se perguntam: é possível doar órgãos, sem prejuízo à nossa espiritualidade? É o que veremos neste texto.

  Transplantar um órgão para curar um doente (transfusão, transplante de medula, de pele, de rins, do coração ...) é um ato médico cuja finalidade é boa em si própria. No entanto, esta prática só pode ser feita mediante certas condições. Devemos ser, por exemplo, completamente contrários ao tráfico de órgãos – grande ameaça nestes tempos. Quando se tratar de uma doação feita por uma pessoa viva (sangue, medula, rim) deve ser evitada qualquer transação comercial. Ninguém pode dispor do seu próprio corpo ou do de outrem para com ele ganhar dinheiro, mesmo que seja para prestar um serviço. A doação de esperma ou de óvulos é de outro tipo; o objetivo não é curar mas transmitir vida, e esta só deve ser feita na relação conjugal dos esposos; esta doação é contrária ao respeito pelo vínculo conjugal, mesmo que seja por amor. Assim, ao católico, está proibida este tipo de doação.

  Em relação ao corpo de uma pessoa que já morreu, ninguém pode tirar-lhe nenhum órgão contra a vontade da família ou se, em vida, a própria pessoa se manifestou contra. A doação também não pode seguir motivos “espiritualistas”, isto é, achar-se que por esta doação aquela pessoa “viverá na outra”, de forma reencarnada. Também não se deve seguir motivos materialistas, isto é, achar que, pela doação, a pessoa continuará a viver nesta vida. Não. A pessoa, de fato, morreu. Ela não ganha reencarnação nem continua viva pelo seu órgão.

  No que diz respeito a alguém prestes a morrer ou em estado de coma profundo, não se podem tirar órgãos sem se ter a certeza de que a pessoa está morta (segundo várias legislações, são necessários, pelo menos, dois eletroencefalogramas feitos com 24 horas de intervalo). Qualquer prática que contrarie estas regras opõe-se ao respeito que é devido a cada pessoa. 

  Outra dúvida corrente: “na ressurreição dos mortos, eu não precisarei daquele órgão que doei?”. Não. A ressurreição dos corpos é de índole espiritual; por mais que a matéria seja ressuscitada, o foco está no espiritual. Este corpo que hoje possuímos, passará por uma transformação para o chamado “corpo espiritual”. Nele, os órgãos não terão suas funções necessárias para uma vida terrestre, já que não viveremos mais aqui. Santo Tomás de Aquino acrescentava que os corpos espirituais estariam completamente íntegros na ressurreição; as privações que tivesse em vida seriam habilitadas ou reabilitadas. Por exemplo, alguém obeso ou abaixo do peso, estaria com “peso” ideal, proporcional ao seu corpo; os cegos veriam e os surdos ouviriam, etc.

  O católico pode, seguindo tais determinações, fazer sua doação em vida ou registrar seu desejo, para depois da morte. É uma obra boa e solidária, bela e tocante de desapego e de amor ao próximo, desde que, não fira nossas profundas convicções.

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