Na moral católica, não basta
que os fins sejam bons, é necessário também que os meios aplicados para se
alcançar este fim sejam bons, assim toda a ação é boa e não apenas parte dela.
Hoje em dia tem se divulgado muito as doações e alguns católicos se perguntam:
é possível doar órgãos, sem prejuízo à nossa espiritualidade? É o que veremos
neste texto.
Transplantar um órgão para curar um doente
(transfusão, transplante de medula, de pele, de rins, do coração ...) é um ato
médico cuja finalidade é boa em si própria. No entanto, esta prática só pode
ser feita mediante certas condições. Devemos ser, por exemplo, completamente
contrários ao tráfico de órgãos – grande ameaça nestes tempos. Quando se tratar
de uma doação feita por uma pessoa viva (sangue, medula, rim) deve ser evitada
qualquer transação comercial. Ninguém pode dispor do seu próprio corpo ou do de
outrem para com ele ganhar dinheiro, mesmo que seja para prestar um serviço. A
doação de esperma ou de óvulos é de outro tipo; o objetivo não é curar mas
transmitir vida, e esta só deve ser feita na relação conjugal dos esposos; esta
doação é contrária ao respeito pelo vínculo conjugal, mesmo que seja por amor.
Assim, ao católico, está proibida este tipo de doação.
Em relação ao corpo de uma pessoa que já
morreu, ninguém pode tirar-lhe nenhum órgão contra a vontade da família ou se,
em vida, a própria pessoa se manifestou contra. A doação também não pode seguir
motivos “espiritualistas”, isto é, achar-se que por esta doação aquela pessoa “viverá
na outra”, de forma reencarnada. Também não se deve seguir motivos
materialistas, isto é, achar que, pela doação, a pessoa continuará a viver nesta
vida. Não. A pessoa, de fato, morreu. Ela não ganha reencarnação nem continua
viva pelo seu órgão.
No que diz respeito a alguém prestes a morrer
ou em estado de coma profundo, não se podem tirar órgãos sem se ter a certeza
de que a pessoa está morta (segundo várias legislações, são necessários, pelo
menos, dois eletroencefalogramas feitos com 24 horas de intervalo). Qualquer
prática que contrarie estas regras opõe-se ao respeito que é devido a cada
pessoa.
Outra dúvida corrente: “na ressurreição dos
mortos, eu não precisarei daquele órgão que doei?”. Não. A ressurreição dos
corpos é de índole espiritual; por mais que a matéria seja ressuscitada, o foco
está no espiritual. Este corpo que hoje possuímos, passará por uma
transformação para o chamado “corpo espiritual”. Nele, os órgãos não terão suas
funções necessárias para uma vida terrestre, já que não viveremos mais aqui.
Santo Tomás de Aquino acrescentava que os corpos espirituais estariam
completamente íntegros na ressurreição; as privações que tivesse em vida seriam
habilitadas ou reabilitadas. Por exemplo, alguém obeso ou abaixo do peso,
estaria com “peso” ideal, proporcional ao seu corpo; os cegos veriam e os
surdos ouviriam, etc.
O católico pode, seguindo tais determinações,
fazer sua doação em vida ou registrar seu desejo, para depois da morte. É uma
obra boa e solidária, bela e tocante de desapego e de amor ao próximo, desde
que, não fira nossas profundas convicções.
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