Testemunhar e anunciar a mensagem cristã, conformando-se com Jesus Cristo. Proclamar a misericórdia de Deus e suas maravilhas a todos os homens.

Páginas

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Homilia da Missa do Dia de Natal (noite)


Queridos irmãos,

  “Muitas vezes e de muitos modos falou Deus outrora aos nossos pais, pelos profetas; nestes dias, que são os últimos, Ele nos falou por meio do Filho...”. Deus nos falou e o que falou? Que palavra se utilizou para se dirigir a nós? Esta palavra chama-se “Jesus”. Em Jesus o Pai nos comunicou sua graça e sua verdade, seu amor e sua misericórdia. Diferente de outros evangelistas, São João narra o mistério da Encarnação de forma descencional, de cima para baixo. Ele olha para o mistério da vinda de Deus ao mundo e olha para o céu, onde tudo começou, olha para o alto de onde tudo proveio, olha para o Pai de onde tudo procede. A Palavra antes desconhecida, agora é pronunciada à Terra e pode ser entendida pelos homens.

  “E a Palavra se fez carne e habitou entre nós”. Este é o mistério do Natal que celebramos: Deus veio a nós como uma mensagem; se antes pela boca dos profetas a sua palavra ainda não era entendida e se manifestava ainda arcana, misteriosa aos ouvidos do homem, agora o Pai lança mão de sua última e mais alta investida: Ele fala diretamente aos homens e sua palavra é o seu Filho. Jesus é a pronúncia do Pai, é o enunciado de seus lábios, é a mensagem de seu coração, é o sinal que explica num só gesto; em Jesus que nasce em Belém, o Pai nos fala de seu amor desde sempre e para sempre, nos fala de seu perdão dado sem demora.

  Muitos fazem uso da palavra para oprimir, machucar, derrubar. Quanto desentendimento, divisão, agressão e ameaças são feitas por meio da palavra. São palavras malditas, expressões malignas, fruto da investida de Satanás e de nossa pobre situação de decadência. As palavras, desde séculos, têm poder de trazer a paz ou a guerra. E quantas vezes nós cristãos também usamos mal as palavras... Com o Menino de Belém, as palavras serão redimidas, reorientadas. Natal é a Festa do nascimento da Palavra eterna do Pai que veio para banir os desentendimentos, as agressões, as ameaças... A Palavra divina vem transformar as palavras humanas. Aquele que tomou a nossa carne veio redimi-la.

  O Natal é a Festa do amor maior. Deus tanto amou o mundo que nos enviou seu Filho; enviou o Verbo divino por amor e para nos ensinar a amar. Deus não tem medo de amar, mesmo sendo traído, esquecido, abandonado por suas criaturas, ele mantém sua palavra, mantém seu desejo de amar. Nosso amor também deveria se espelhar no amor de Deus. Deveria ter as mesmas características do amor divino. Um amor que permanece, mesmo diante da traição, amor que suporta todas as coisas, amor que se faz pequeno para alcançar os pequenos. O Filho desceu de sua glória, a Palavra eterna do Pai fez-se pequeno e coube num menino; o amor muitas vezes terá que descer de seu pedestal e se colocar em baixo, como servidor. Nada de grandezas! O amor torna-se grande quando sabe servir a todos.

  Não obstante esse amor de Deus derramado sobre nós, o Evangelho de São João também nos apresenta uma palavra dura, dolorosa de se ouvir: “veio para o que era seu e os seus não O acolheram”. A rejeição a Jesus começa em Belém, quando não conseguiu ser acolhido numa casa decente; continuou em Jerusalém, quando não aceitaram sua Palavra e o crucificaram fora da cidade; e continua hoje, quando seus ensinamentos são desprezados e sua Igreja e seus seguidores perseguidos... Desde sua vinda ao mundo, o Senhor foi rejeitado pelos homens... Mas também devemos pensar com isso que desde o seu nascimento, Jesus demonstra que não pertence a este mundo, não pertence a esta realidade. E aqui também está o caminho de cada cristão: Saber que não pertence a este mundo, saber que será perseguido pela causa da verdade, saber que muitas vezes seremos odiados por aquilo que somos, porque nosso estilo de vida incomoda aos que não seguem a Palavra. Cristo não veio para nos transformar em pessoas agradáveis, mas para fazer-nos como Ele, e isso implica passar por contrariedades, perseguições, rejeições, abandono, traição e luta contra Satanás.

  O Filho de Deus não encontrou um lugar apropriado e aceitou nascer sobre palhas, entre animais. Nada mais constrangedor para nós, anfitriões do Salvador; o mundo não se preparou para a vinda de Cristo, o deixou de fora de suas casas, deu-lhe um lugar sujo, apenas habitado por animais... Os homens não estavam atentos para O encontrar, nem muito menos para O acolher. E nós hoje? Já conhecemos a história, já sabemos deste vexame, desta vergonha de deixar Deus ao relento e o que fazemos com esta informação? Muitos ainda deixam Cristo de fora; fora de seus corações, fora de suas vidas, fora de suas escolhas, fora de suas decisões, fora de suas casas, fora de seus trabalhos, longe se si... Ainda o Menino bate à porta... E quem abrirá? Ainda damos o pior para Deus! Nosso melhor tempo não é para Ele; nossa maior oferta não é para sua obra; nossa melhor roupa não é para a Missa; nossas melhores palavras não estão na oração; nossos maiores sacrifícios não são por Ele; nossa maior atenção não é para suas coisas; nosso amor ardente não é devotado ao Senhor. Até quando agiremos assim? Até quando daremos estrebaria, curral para Deus habitar?

  Hoje vamos a Belém, ou melhor, estamos na Belém! Aquele mesmo acontecimento de dois mil anos atrás se repete hoje, em cada Santa Missa. Na Eucaristia, Jesus está escondido sob o véu da aparência de pão; como outrora ocultou o esplendor de sua divindade naquele Menino deitado sobre as palhas, hoje Ele também se encontra velado sob o manto do Sacramento da Comunhão. Mas como estava Deus naquela criança, também está Deus na Eucaristia. Por isso toda reverência devemos ter ao receber o Senhor na Comunhão, seja em nossa postura, seja em nossas roupas. Nossa Belém é o altar! Nossa gruta é o sacrário! Nosso presépio é a nossa alma! Nela, bem longe o barulho do mundo, as sujeiras do mal.

  Que neste Natal, você perceba a grandiosidade de tal celebração e a gravidade deste mistério. Que o Natal não seja um dia, mas uma vivência diária. Vivamos o amor de Deus! Vivamos a vida de Deus! Vivamos na luz de Deus! Que a Virgem Maria que recebeu o Menino com todo carinho interceda por nós para que também nós o recebamos com piedade e São José, guarda de Maria e Jesus, guarde-nos também de todo o mal.


Amém!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Você pode deixar seu comentário ou sua pergunta. O respeito e a reverência serão sempre bem vindas.