Queridos
irmãos,
Fomos introduzidos solenemente na Liturgia da
Palavra pelas palavras do profeta Isaías que dizia: “O povo, que andava na
escuridão, viu uma grande luz; para os que habitavam nas sombras da morte, uma
luz resplandeceu”. Este é o primeiro mistério que celebramos no Natal:
estávamos perdidos, sem rumo, em meio à escuridão. Sozinhos nunca poderíamos
sair desta situação; continuaríamos embaraçados pelas teias de nossa fraqueza,
de nossa decadência, de nosso pecado. Só Deus poderia vir em nosso auxílio e
Ele veio. “Fizeste crescer a alegria, e aumentaste a felicidade; todos se
regozijavam em tua presença...”. Essa foi a obra de Deus: tirar-nos da
escuridão e nos dar a luz; reerguer-nos da queda e nos por de pé; vir habitar
no meio de nós e nos mostrar o caminho certo; retirar-nos a tristeza e nos
encher de santa alegria. Natal é a Festa da nossa Salvação iniciada pela
chegada de Deus em nosso meio! É um dia de alegria, não há espaço para a
tristeza, pois Deus veio a nós!
No Menino de Belém, todos os nossos anseios
são saciados, todas as nossas dores aliviadas, todos os nossos medos afastados,
pois nasceu para nós um Salvador, que é o Cristo Senhor; “nasceu para nós um
menino, foi-nos dado um filho...”. Aqui está a desconsertante mensagem de Deus:
Ele não nos envia um rei cheio de altivez, forte, já formado, vaidoso,
habitante de um palácio e rodeado de servos, falante e inquiridor, mas nos
manda uma criança, um recém-nascido, alguém que nem balbucia... Somente Deus
podia pensar numa mudança tão radical, somente Ele poderia ter uma ideia tão
diferente da dos homens... Ainda que este menino seja completamente diferente
dos outros, pois se espera dele que seja um “Conselheiro admirável, Deus forte,
Pai dos tempos futuros, Príncipe da paz”, ele agora é igual a qualquer criança
recém nascida: não inspira medo, pavor, tristeza, intimidação, raiva; ele não
dissimula, não finge, não mente, não ataca, não discute, não briga... E assim
ele será quando adulto. O Pai nos enviou seu Filho, cheio do Espírito Santo,
como uma criança, para nos ensinar a crescer, a ser grande. Mas não grande como
os poderosos deste mundo ou como aqueles arrogantes que também desejam ter
poder, fama, glória e dinheiro e fazem de tudo por isso; não! O Senhor deseja
nos transformar em homens novos, elevados em graça e em santidade. Quem quiser
se portar como “grande”, como poderoso, como racionalista não entenderá a
mensagem de Belém, nem conseguirá acolher esta criança que nos foi dada.
Vejamos o exemplo do imperador Augusto:
queria não apenas ser soberano, mas que todos o vissem, o considerassem e o
temessem; usou do seu reino e dos seus bens para tentar ser ainda maior que
seus antecessores. No entanto, numa noite comum, sem cerimônias ou pompas, sem
palácio, sem cetim, nascia alguém muito maior que ele, muito mais sábio e
poderoso que o imperador humano. Esse é o paradoxo do Natal: O pobre é mais que
rico que o rico; a criança, mais importante que o adulto; o escondimento, mais
transparente que o aparecimento; a simplicidade mais necessária que o
rebuscamento; a mudez mais eloquente do que a fala. Augusto, por mais que
quisesse ser “adorável” e arrogasse para si também o título de “salvador”, nem
foi deus, nem conseguiu salvar a ninguém. No mundo, ainda há pessoas que buscam
perpetuarem suas existências por aquilo que fazem, pelos títulos que envergam,
pelos cargos que exercem, pela fama que alcançam. Mas em nada disso está a
glória, a realização, a felicidade. Só no encontro com Cristo podemos alcançar
o bem, descobrir a verdade e viver em paz. Fora de Cristo não há redenção; fora
da Igreja de Cristo não há salvação!
Hoje todos nós vamos a Belém! Hoje todos nós
estamos em Belém! E nessa escola de Jesus, Maria e José, escola de graça e da
graça, temos muito que aprender; disse-nos São Paulo: “Ela nos ensina a
abandonar a impiedade e as paixões mundanas e a viver neste mundo, com
equilíbrio, justiça e piedade...” Ó irmãos, quanta impiedade ainda existe no
mundo! Quantas ações malignas até de gente de dentro da Igreja de Cristo? Falta
equilíbrio, falta justiça, falta piedade... Se fôssemos equilibrados não
haveria excessos; se fôssemos justos, não haveria desigualdade; se fôssemos
piedosos, nossa boca, nosso coração e nossos pensamentos não profanariam o
templo do nosso corpo nem o templo de Deus, esta Casa de oração...
Uma das frases mais tocantes do Evangelho que
ouvimos diz respeito à rejeição que Jesus recebeu desde o seu berço: “pois não
havia lugar para eles na hospedaria”. Estas palavras se unem certamente àquelas
do prólogo de São João: “Veio para o que era seu, mas os seus não o receberam”.
E também como não pensar na morte de Jesus, quando foi crucificado não dentro
das muralhas de Jerusalém, mas fora da cidade. Desde sua chegada a este mundo,
o Senhor é rejeitado pelos homens. Mas também devemos pensar que desde o seu
nascimento, Jesus demonstra que não pertence a este mundo, não pertence a esta
realidade. E este não deve ser o caminho de cada cristão? Saber que não
pertence a este mundo, sair constantemente da opinião dos outros, daquilo que
pensam ou querem, da lógica do pecado e entrar para luz da verdade? Cristo não
veio para fazer cristãos agradáveis, mas para fazê-los conforme a Si mesmo e
isso comporta a contrariedade, a perseguição, a rejeição, o abandono, a traição
e a luta contra Satanás.
Irmãos, Cristo nasceu com muitos propósitos.
Hoje vemos tantas pessoas perdidas, sem rumo, sem direção, em dúvidas sobre sua
vocação, seu engajamento pastoral, mas Jesus veio trazendo junto de Si sua
missão. O Catecismo da Igreja nos propõe 4 explicações de sua vinda a nós:
1.
“O Verbo se fez carne para salvar-nos, reconciliar-nos com Deus”: Sim, o Pai
nos amou sobremaneira e nos enviou seu Filho para nossa redenção. Sem Ele,
nossa vida continuaria vazia e sem significado;
2.
“O Verbo se fez carne para que conhecêssemos o amor de Deus”: Só Deus é Puro
amor e qualquer amor humano autêntico tem que vir dele e ser purificado por
ele. Há pessoas que amam, mas não conforme Deus nos ensinou e nos mostrou;
então ele tende a se extinguir no decorrer do tempo;
3.
“O Verbo se fez carne para ser nosso modelo de santidade”: Nós podemos até
buscar fazer o bem, mas ele tão tem sustentação se Cristo não estiver na base.
A santidade só pode ser alcançada com a união entre nós e Jesus Cristo. Não se
consegue a santidade por méritos, práticas devocionais ou obras assistenciais;
estas obras apenas nos aproximam de Deus, mas somente o “amor implica a oferta
efetiva de si mesmo no seu seguimento”.
4.
“O Verbo se fez carne para tornar-nos ‘participantes da natureza divina’”: Ao
entrarmos em comunhão com Jesus, na oração, nos sacramentos, nas penitências,
na meditação de sua Palavra, nós recebemos de sua filiação divina e nos
tornamos seus irmãos.
Deus veio a nós! Esta é mensagem do Natal; o
homem se encontrou com Deus. Não há distâncias! Deus pode olhar o homem de
perto; o homem pode falar ao seu Deus, como a seu ouvido; Deus veio sentir como
os homens e agora nós, os homens, podemos ter sentimentos elevados que só Deus
tem. Hoje nosso coração se enche de alegria e esperança, pois apesar de nossos
pecados e limitações, não estamos sós. O Emanuel está conosco! Do nosso coração
deve brotar uma profunda gratidão para com Deus, pois sem darmos qualquer
presente, Ele nos presenteou. Alegremo-nos pelo Menino, alegremo-nos com o
Menino!
Ó
Menino de Belém, que assumiste a nossa natureza humana,
Faze
que nos despojemos de nossa vontade;
Ó
Menino de Belém, que aceitaste o desconforto e a sujeira da estrebaria,
Faze
que usemos bem do que temos, sem invejas, ciúmes;
Ó
Menino de Belém, que nasceste no silêncio e longe da agitação humana,
Faze
que amemos o silêncio e o desconhecimento;
Ó
Menino de Belém, que experimentaste a dureza dos corações humanos,
Faze
que não nos entreguemos à tristeza ou ao rancor quando formos desprezados e
perseguidos;
Ó
Menino de Belém, que aceitaste as consequências de um corpo humano,
Faze
que sejamos consequentes com aquilo que prometemos;
Ó
Menino de Belém, que trouxeste luz e alegria àquela noite escura,
Faze
que busquemos sempre a luz e sejamos alegres por isso;
Ó
Menino de Belém, que sentiste frio e desabrigo,
Faze
que sejamos confortados pelo teu calor e pelo teu amor.
Amém!
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