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terça-feira, 16 de setembro de 2014

A Celebração do Domingo para o cristão


  Infelizmente, a grande maioria dos cristãos desconhece o significado do Dia do Senhor, o chamado Domingo. Pois bem, aproveitando ainda o tempo pascal, é conveniente uma reflexão sobre o sentido deste dia tão importante, Páscoa semanal, na qual celebramos a ressurreição do Senhor, sua vitória sobre a morte e causa de nossa vida.

  É controvertida a origem do domingo cristão. Uma das teses mais aceitas e mais fundadas é a seguinte: os primeiros cristãos reuniam-se para a Eucaristia no domingo ao anoitecer (cf. At 20,7; Plínio, o Jovem, Ep. X,96,7), em continuidade com as aparições de Cristo na tarde da Páscoa (cf. Jo 20,19) e no domingo sucessivo (cf. Jo 20,26)[1], em continuidade com as refeições que Cristo ressuscitado tomou com seus discípulos (cf. Lc 24,30.41-43; At 3,1,3s).

  Inicialmente a Eucaristia dominical era celebrada no contexto de uma ceia completa (cf. 1Cor 11,25; Didaqué 10,1; Plínio, o Jovem, Ep. X,96,7), possuindo sobretudo um caráter escatológico: o Senhor ressuscitado aí estava presente, de modo que a celebração era já antegozo da sua Parusia. Além desta ceia, ao que parece, já muito cedo, havia também uma celebração antes da aurora, testemunhada pela primeira vez por Plínio, o jovem. Tal celebração era relacionada com o batismo. Quando a celebração vespertina foi abolida pelas restrições do Império, os cristãos passaram a celebrar a Eucaristia somente na madrugada, antes da aurora. É esta a situação testemunhada por Justino na sua Apologia.

  O Domingo era denominado de modo vário, exprimindo seu significado para os cristãos:

Dia do Senhor. O primeiro testemunho desta designação encontra-se em Ap 1,10. Dia do Senhor é uma fórmula análoga à Ceia do Senhor. O Domingo é o dia que recorda o Senhor, sobretudo porque nele se celebra a Ceia do Senhor. Todos os cristãos devem celebrá-lo participando da Sinaxe eucarística, ainda que correndo perigo de vida! O domingo era quase exclusivamente o único dia da celebração eucarística, de modo que não se concebia um sem o outro.

Oitavo Dia. Na semana de sete dias, o Oitavo é o dia sem fim, o dia escatológico, prenúncio do Dia eterno da Parusia. Assim, o Oitavo Dia transcende o tempo dos homens, transcende a semana e nos abre já um antegozo da eternidade. É, portanto, o Dia prometido pelos profetas, dia da plenitude do Espírito, da sua efusão sobre toda a carne. Portanto, dia do batismo.

Primeiro Dia. João fala em “primeiro dia depois do sábado” (Oushz oun oyiaz th hmera eceinh th mia sabbatwn...). Sábado que significa a antiga criação, a antiga aliança, agora superadas pela nova realidade do Ressuscitado! A tradição judaica já chamava este dia de primeiro dia, dia da criação da luz, dia do sol.

  Aos poucos, iniciou-se a tendência de fazer do domingo um sábado cristão! Este passo foi efetivado depois que Constantino Magno, em 321, proclamou o domingo como dia de repouso obrigatório em todo o Império. É interessante que, entre os cristãos, inicialmente continuou-se a trabalhar (cf. S. Jerônimo, Ep. 108,20,3; Paládio, História Lausíaca 59,2; S. Bento, Regra, 48,22s). Infelizmente, procurou-se fundamentar e motivar o repouso dominical com o mandamento do sábado. Note-se que ainda hoje aprendemos erradamente no Catecismo que o segundo mandamento da Lei de Deus é guardar os domingos e festas! No século VI esta equiparação do domingo ao sábado já estava plenamente estabelecida. Antes de Constantino um tal passo não teria sido possível, seja porque não se conhecia um repouso dominical entre os cristãos, seja porque, sobretudo, os cristãos não consideravam mais o mandamento do repouso sabático semanal como obrigatório na Nova Aliança e, portanto, não tinha nada a ver com o domingo cristão.

  Atualmente, seria melhor enfatizar a originária percepção do domingo como dia em que se celebra a Eucaristia pascal. O repouso, cujo significado ético-social não deve ser diminuído, foi ligado ao domingo não por querer de Deus, ou seja, não por instituição divina, mas por decreto imperial... Assim, repouso e domingo não têm, necessariamente que permanecer interligados para sempre! O que é necessário fazer os cristãos compreenderem novamente é que o domingo é, por excelência, o dia da Eucaristia: sem ela, não há domingo[2]: celebra-se o Dia do Senhor participando da Ceia do Senhor!

[1] Aliás, segundo bons exegetas, estas aparições joaninas, a cada oito dias, são já reflexo da práxis litúrgica eclesial, de celebrar o Ressuscitado no Oitavo Dia.
[2] O Concílio de Elvira, em 321, excluía da comunhão eclesial quem durante três domingos consecutivos se ausentasse da missa.


Dom Henrique Soares da Costa

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