Ninguém acredita no que não
espera, nem espera por aquilo em que não acredita. Cremos porque queremos e
queremos porque cremos. A fé é mais do que acreditar em Deus e a esperança
muito mais do que esperar sentado que os sonhos se concretizem. Fé e esperança
implicam mudanças na vida, exigem que nos levantemos do conforto e corramos
rumo a algo maior do que aquilo que conseguimos compreender. Acreditar não é
uma atitude passiva de esperar que o mundo se alinhe para nos satisfazer, mas
sim uma vontade ativa de criar o que se espera. De erguer com as próprias mãos
aquilo em que se tem fé.
O Homem tende naturalmente para os bens
futuros, incertos, mas cuja ocorrência depende, na maior parte dos casos de uma
disposição determinada e de uma série de ações concretas. A expectativa é a
base do esforço que luta pelo bem. Esperamos porque acreditamos ou acreditamos
porque esperamos? Não tem sentido. Esperança e fé são indissociáveis. Não
existem como realidades distintas. Contêm elementos irracionais, mas ninguém
acredita no que não espera, nem espera por aquilo em que não acredita. Cremos
porque queremos e queremos porque cremos.
O Amor promete e garante uma vida que há de
ser vivida, mas também que, ao longo do percurso até lá, cada passo seja apreciado
mas sofrido... o sofrimento faz parte da prova do Amor. Até que ponto se
acredita? Se espera? Se segue adiante sem chão por debaixo dos pés? Dói. Muito.
Mas valerá mais que todas e cada uma das penas. Eis a essência da eternidade: a
inesgotabilidade do Amor. Há sempre (mais) Amor, ao ponto do tempo ser vencido
e ultrapassado.
A vida valiosa existe para além do visível.
Talvez por isso a esperança seja desesperante e a fé angustiante, afinal o Amor
precisa de ser cego às coisas que passam... Porque o Amor é vida, no seu
sentido último... aquela força que luta contra o que existe, para dar mais cor
e luz ao mundo, que faz a semente brotar da terra, a árvore crescer, o animal
procurar sempre forma de sobreviver, essa mesma força que leva o homem a sonhar
ser tão grande quanto infinito é aquilo que espera e em que acredita. O que
ama. O Amor estende-se ao futuro. Por isso é esperança. Não há Amor sem amanhã.
Nem amanhã sem Amor. Esperar é próprio do Amor. Sempre. Para além do desespero.
Apesar da maior de todas as dores, o Amor confia, espera e acredita. O Amor é
Amor, e só nele tudo fará sentido.
Fé e esperança implicam a existência de
razões para além daquelas que a humana inteligência consegue abarcar. Afinal, a
verdade pode repousar naquilo que hoje parece não fazer sentido algum. Eis a
maior das belezas: uma luz, que ainda escondida, há de iluminar a mais tremenda
das escuridões. A humildade é a chave que abre os sonhos ao mundo, na medida em
que só uma consciência que compreenda que não há nada que dependa só da vontade
de quem espera pode lançar-se no desígnio de fazer na terra um céu.
É na fragilidade do momento presente, face à
felicidade que se entrevê num futuro incerto e vertiginosamente livre, que o
homem estabelece o claro sentido da sua fé, da sua esperança: Ajoelhando-se
diante dos sonhos e amando com todo o seu ser, apesar dos pesadelos. Talvez
esperança e fé sejam apenas formas mais concretas do Amor andar neste mundo. Sem
Amor a existência é um buraco negro, vazia de luz, contraditória e privada do
essencial: a eternidade. O contrário da felicidade é o medo. Caminhar rumo à
incerteza do amanhã implica um abandono confiante que, contra todo o desespero,
ama o que não conhece e para ele caminha por entre infernos. Uma vontade
simples e infinita de ser feliz. A fé. A esperança. O Amor.
José Luís Nunes Martins
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Você pode deixar seu comentário ou sua pergunta. O respeito e a reverência serão sempre bem vindas.