No dia 23 de agosto, na
Paróquia da Santíssima Trindade do Vicariato Alcântara, aconteceu a Assembleia
Arquidiocesana de Pastoral. Arcebispo, padres, diáconos, religiosas e cristãos
leigos, em número aproximado de 350 participantes, estávamos representando as
paróquias, pastorais e movimentos de nossa Arquidiocese. Nesta Assembleia, eu
fiz a apresentação do documento 100 da CNBB sobre a paróquia: COMUNIDADE DE
COMUNIDADES. A mesma dificuldade que enfrentei para escrever a palestra estou
encontrando para escrever esse artigo. É que o Documento 100 é muito rico,
ousado, desafiador, corajoso. Grande demais para caber numa palestra ou num
artigo. Por isso, peço que entrem em contato com o Documento 100. Que o leiam,
o analisem, o manipulem, sublinhem, façam como que ele seja seu. Porque ele é
seu. Foi pensado para você.
Começo perguntando o que você pensa sobre a
comunidade onde vive e se dedica à construção do Reino. Como é a sua
comunidade? Como deveria ser? Como são os contornos pastorais dela? Rígidos?
Laxos? A estrutura paroquial enfrenta todos os desafios, porque foi construída
tendo por referência a estrutura rural das pequenas cidades. As grandes cidades
trouxeram novos desafios dos quais também a estrutura paroquial não ficou fora.
Desafios são sempre bons: são revitalizantes. Sem desafio, a vida ficaria
estagnada e estéril.
O Documento 100 é dividido em 6 capítulos.
Capítulo 1 – SINAIS DOS TEMPOS E CONVERSÃO PASTORAL. É o capítulo dos desafios.
Capítulo 2 – PALAVRA DE DEUS, VIDA E MISSÃO NAS COMUNIDADES. É a fundamentação
bíblica do Documento 100. Capítulo 3 – SURGIMENTO DA PARÓQUIA E SUA
EVOLUÇÃO. Nesse capítulo vemos a história do desenvolvimento do conceito
e da prática paroquial. Capítulo 4 – COMUNIDADE PAROQUIAL. Esse é o capítulo da
fundamentação teológica. Capítulo 5 – SUJEITOS E TAREFAS DA CONVERSÃO PAROQUIAL.
Esse capítulo trata de todos nós, sujeitos de uma nova conversão pastoral.
Capítulo 6 – PROPOSIÇÕES PASTORAIS. Esse é o capítulo dos novos tempos, novas
urgências e esperanças.
O tom do Documento 100 é dado já no parágrafo
1. “Há séculos a paróquia tem sido a presença pública da Igreja nos
diferentes lugares. Ela é referência para os batizados. Sua configuração
social, entretanto, tem sofrido profundas alterações nos últimos tempos. A
mudança de época da sociedade e o processo de secularização diminuíram a
influência da paróquia sobre o cotidiano das pessoas. Há dificuldades para que
seus membros se sintam participantes de uma autêntica comunidade cristã. Cresce
o desafio de renovar a paróquia em vista da sua missão.”
A grande preocupação não parece tanto ser a
da diminuição da influência da paróquia sobre o cotidiano das pessoas, mas as
dificuldades de inserção dos fiéis na comunidade cristã. Aumentou a
complexidade da vida. E os homens e mulheres ou foram deixados ou foram se deixando
ficar à margem da comunidade cristã, tornando-se expectadores ou consumidores
do espaço da fé. “Qual é a situação de nossas paróquias hoje? Quais são as
causas de certo esfriamento na comunidade cristã? O que é preciso perceber para
que ocorra uma mudança? Que aspectos merecem revisão urgente? O que é possível
propor e assumir na pluralidade da realidade brasileira?” (Doc. 100, 7).
Por isso, formar pequenas comunidades é a
proposta do Documento 100, o modelo de uma nova vida paroquial. “Basicamente, a
conversão pastoral da paróquia consiste em ampliar a formação de pequenas
comunidades de discípulos convertidos pela Palavra de Deus e conscientes da
urgência de viver em estado permanente de missão. Isso implica em revisar a
atuação dos ministros ordenados, consagrados e leigos, superando a acomodação e
o desânimo. O discípulo de Jesus Cristo percebe que a urgência da missão supõe
desinstalar-se e ir ao encontro dos irmãos.” (Doc. 100, 8).
Duas coisas são pedidas. Revisão: é preciso
revisar a atuação de todos os ministros. E urgência: o discípulo tem urgência.
Não tem pressa, tem urgência. O capítulo 1 – SINAIS DOS TEMPOS E CONVERSÃO
PASTORAL é rico, lindo e profundo: todo inspirado no Documento Gaudium et
Spes, do Concílio Vaticano II. Aos novos, será preciso falar da Teologia da
Esperança que impactou aquele Concílio. No início da década de 60, auge da
Guerra Fria entre as potências militares da época, a esperança era a palavra
mais linda que havia, aquela que mais tocava a realidade do momento, o rosto
que a Igreja queria ter, a própria imagem do Deus da Revelação. Por isso, Gaudium
et Spes: alegria e esperança.
Mas o meu espaço, aqui, acabou. Podemos nos
encontrar aqui, no próximo mês, para ler o Documento 100 com o olhar da Igreja
que está em Niterói, essa Igreja pujante e alegre, de gente do bem, que quer se
entregar ao Bem Maior. Volto meu olhar para o “grande sinal que apareceu
no céu: uma Mulher vestida de sol”. Essa Mulher é a Igreja, cuja melhor
representante é Maria. Ela nos dá constantemente à luz o Filho. O dragão, as
forças implacáveis do sistema, sempre vai querer engolir o Filho que nos vem no
seio da Igreja. Enquanto o Filho for arrebatado, a Mulher, a Igreja se
recolherá ao deserto da alma, para repensar o pensamento, rever ações, avaliar resultados,
reformar comportamentos, renovar o amor primeiro. Essa é a essência do
Documento 100. Que ele nos renove por sua proximidade. Até outubro, com mais
Documento 100. A todos a minha bênção e meu carinho, sempre, sempre.
Dom José Francisco Rezende
Dias, Arcebispo Metropolitano de Niterói
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