Estamos em mais um dos meses
temáticos. Além dos temas dos textos bíblicos e os próprios da liturgia, a
Igreja no Brasil nos sugere um assunto que perpassa todo o mês para a nossa
reflexão. Em setembro, a Igreja Católica celebra o mês da Bíblia. Esse mês
temático foi criado em 1971 e ele foi escolhido porque no último domingo
celebramos o Dia Nacional da Bíblia, devido à proximidade da festa de São
Jerônimo, patrono dos estudos Bíblicos, no dia 30.
A cada ano um livro bíblico é aprofundado em
nossas comunidades, seja pelas reuniões de grupos, seja pelas publicações, ou
ainda pelas celebrações. Neste ano refletiremos nosso seguimento a partir do Evangelho de Mateus”. A escolha desse evangelista
ocorre devido ao ano “A” da liturgia dominical, que contempla a leitura desse
texto. Graças aos
apóstolos, mais próximas testemunhas que viveram com Jesus Cristo, chegam até
nós a Boa-Notícia da Salvação proclamada pelo Filho de Deus. Assim se expressa
São Pedro: "Senhor, para quem iremos nós? Só Tu tens palavras de vida
eterna?" (Jo 6, 68). Fé na Palavra, que é viva! O Verbo é o próprio
Cristo: Ele é a Palavra viva! A Bíblia, ou Sagrada Escritura, é como uma carta
enviada, que hoje atualizamos com a prática da fé, à luz da Tradição da Igreja
e do Magistério Pontifício. É a Sua Palavra viva e eficaz.
O que a Palavra de Deus me diz, ainda hoje,
aqui e agora? Deus fala, ainda hoje, e as palavras são dirigidas a todas as
pessoas. Este é o grande mistério da Palavra de Deus. Para cada um dirige
pessoalmente a sua voz. Essa verdade tem consequências enormes. Você precisa ter
consciência do que Deus diz na Palavra, a fim de não perder esses momentos
especiais. É então que se faz necessário perguntar: O que Deus diz para mim,
hoje? Fé na Palavra, que dá a vida! A Palavra que é dirigida a mim,
pessoalmente, é a fonte da verdadeira vida. A Palavra deve ser assumida com uma
fé profunda, que é sempre dirigida a mim – aqui e agora!
Encontro com a Palavra viva: sobre o tema, a
verdadeira escola de escuta e oração, o Papa João Paulo II, em sua Carta para o
terceiro milênio, “Novo millennio ineunte”, nos lembra este verdadeiro programa
de pastoral. Ele escreve: "É necessário que a escuta da Palavra de Deus
deve tornar-se uma vida de acordo com a tradição antiga e sempre válida da
lectio divina, para ajudar a encontrar o texto bíblico como Palavra viva que
interpela, orienta e plasma a existência". A Palavra é uma palavra
constantemente presente. Jesus envia seus discípulos a todo o mundo,
ordena-lhes fazer discípulos entre as nações por onde passaram, a pregar a
Palavra exatamente como foi comunicada a eles. Ler a Bíblia supõe abertura à
ação do Espírito Santo, mas também aprofundamentos. São importantes alguns
estudos preliminares, que fornecem uma visão geral das informações básicas
sobre o ambiente em que o livro foi escrito. Por isso, é preciso conhecer o
contexto mais amplo da Bíblia. Este contexto irá variar dependendo de qual
livro queremos ler.
Por exemplo: é óbvio que devemos ler os
Evangelhos com uma ótica diferente de como lemos o livro do Apocalipse. Esta
preparação é ainda mais necessária no caso do Antigo Testamento, que contém uma
série de textos escritos dentro de uma cultura muito antiga. Novas traduções
são fornecidas e somos ajudados com os comentários de rodapé ou à margem do
texto. Recorrer aos Dicionários Bíblicos também nos complementa a ter uma visão
mais ampla dos temas e situações. Estes materiais nos ajudam para a leitura
individual. Nesse aspecto, vale a pena mencionar dois princípios básicos de
leitura da Bíblia. Na sua base, há uma regra geral que diz que toda a Bíblia é
um farol para os seres humanos. Assim, o primeiro e fundamental princípio para
se ler a Bíblia é este: cada declaração das Escrituras considera o contexto em
que ela ocorre.
A segunda regra aplica-se a ter em conta os
diferentes tipos de passagens literárias da Bíblia. Quem já teve até mesmo um
contato superficial com várias obras literárias sabe que o caminho para ler e
interpretar tais documentos, ou prosa (como o romance) e poesia é uma forma
diferente. Os autores bíblicos também se beneficiaram de uma grande variedade
de gêneros literários. Na Bíblia, encontramos textos poéticos (por exemplo,
Salmos); encontramos fragmentos de documentos oficiais (por exemplo, no livro
de Esdras, Macabeus); encontramos fragmentos de narrativa (por exemplo, em Atos
dos Apóstolos). Cada leitura é um pouco diferente. E é necessário evitar o
maior perigo na leitura da Bíblia, que é a interpretação fundamentalista. Esta
interpretação é de significado literal de cada uma das frases das Escrituras,
sem levar em conta as implicações históricas da criação do texto. A leitura
fundamentalista da Bíblia enfatiza a interpretação literal. Necessitamos
descobrir o que está na narrativa bíblica e que é o mais importante, a saber –
a mensagem de levar o homem para a salvação.
O nosso dia deveria começar com a leitura da
Palavra. A tradição da Igreja nos coloca os salmos para a oração da Liturgia
das Horas. É, pois, importante que o iniciemos com a leitura orante da Palavra
de Deus, algo que vai proteger o nosso coração durante o dia, como Maria, que
mantinha tudo no seu coração. Armazenar a Palavra logo de manhã para irmos
“ruminando” durante todo o dia. No final do mergulho na meditação, iniciamos um
novo dia com todos os problemas que ele traz, mas no coração temos uma palavra,
ou pelo menos um de seus versos, algo recebido e acolhido a partir da leitura.
Na liturgia da missa, os vários textos se
complementam e, na sequência, nos ajudam a mergulhar ainda mais no mistério. Que
no mês da Bíblia, em nossas vidas, em nossas famílias, em nossas comunidades e
principalmente na animação do nosso círculo bíblico possamos, cada vez mais,
colocar a Palavra de Deus como centro de nossa ação evangelizadora.
Dom Orani João Tempesta
Cardeal Arcebispo de São
Sebastião do Rio de Janeiro (RJ)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Você pode deixar seu comentário ou sua pergunta. O respeito e a reverência serão sempre bem vindas.