Do
ponto de vista acadêmico, a Teologia da Libertação desapareceu. Basta
observarmos que não se publicam mais livros sobre essa ideologia
revolucionária. Explicou-o com propriedade dom Odilo Scherer, em entrevista
concedida a um jornal de São Paulo: “Foi um momento da história da teologia.
Ela perdeu suas motivações próprias, por causa da ideologia marxista de fundo
– materialismo ateu, luta de classes, uso da violência para conquistar
objetivos – que não casa com a teologia cristã”.
Na prática, contudo, a famigerada Teologia
da Libertação ainda está presente, se bem que moribunda, quer no âmbito
universitário, em certas faculdades de teologia, quer em muitas pregações
populistas. Precisamos esperar ainda um pouco de tempo, para que o efeito nefasto
dessa pseudoteologia se esvaia por completo.
Um dos maiores corifeus da Teologia da
Libertação no Brasil, anos atrás, numa mea culpa surpreendente, afirmou
que a mencionada ideologia cometeu o erro gravíssimo de pôr o pobre no lugar
de Jesus. Eu diria que esse é mesmo o equívoco precípuo, ou seja, a falácia
da Teologia da Libertação, que, paulatinamente, fez esboroar todo seu
discurso demagógico.
A Congregação para a Doutrina da Fé, que
emitiu dois pareceres energicamente contrários à Teologia da
Libertação, sempre frisou o fato de que os católicos dispõem da denominada
Doutrina Social da Igreja, consistente num acervo riquíssimo de ensinamentos
e princípios, com fulcro na palavra de Jesus, aptos a iluminar os cristãos na
sua evangélica opção preferencial pelos pobres, não exclusiva nem excludente.
Outro dia, dando uma olhada num famoso
livro oriundo da Teologia da Libertação, o qual discorre acerca do dogma,
percebi claramente a parcialidade do texto, bem como a unilateralidade das
ideias desenvolvidas, porquanto, por exemplo, insiste-se em que o purgatório
é uma criação dos medievais, baseado exclusivamente na sagrada tradição,
quando, na verdade, a santa Igreja sempre apontou claramente a base bíblica
do purgatório. Outro assunto que chamou minha atenção na referida obra é que
praticamente se postula pelo cancelamento dos dogmas católicos e pela
assunção de uma dogmática ancorada apenas na bíblia (“religião do livro”),
como se, exemplificando, os dogmas da imaculada conceição e da assunção de
nossa Senhora não gozassem de nenhum respaldo nas escrituras sagradas.
Cheguei à seguinte conclusão: um irmão separado (evangélico) decerto iria
simpatizar bastante com aquele escrito...
Estejamos atentos dia e noite, malgrado
contemplemos os estertores da Teologia da Libertação. Não nos deslembremos da
portentosa lição do papa emérito, então cardeal Ratzinger: “Essa teologia [a
Teologia da Libertação] não pretende constituir um novo tratado teológico ao
lado dos outros já existentes (...). Ela se concede antes como uma nova
hermenêutica da fé cristã, isto é, como uma nova forma de compreensão e de
realização do cristianismo em sua totalidade. Por isso mesmo, muda todas as
formas da vida eclesial: a constituição eclesiástica, a liturgia, a
catequese, as opções morais.” (“A fé em crise”, páginas 135 e 136).
Edson
Sampel
Teólogo
e Doutor em Direito Canônico e Membro da União dos Juristas Católicos de São
Paulo (Ujucasp) e da Academia Marial de Aparecida (AMA).
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