Deus
que no decorrer dos séculos, tinha encarregado os profetas de transmitir aos
homens a Sua palavra, ao chegar a plenitude dos tempos, determina enviar-lhes o
Seu próprio Filho, o Seu Verbo, a Palavra feita Carne. Contudo, o Pai das misericórdias quis que a Encarnação fosse precedida da
aceitação por parte daquela que Ele predestinara para Mãe, para que, assim como
uma mulher contribuiu para a morte, também outra mulher contribuísse para a
vida (Lumen gentium, 56).
No momento da Anunciação, através do Anjo
Gabriel, Deus expõe portanto, a Maria os Seus desígnios. E Maria, livre,
consciente e generosamente, aceita a vontade do Senhor a seu respeito, realizando-se
assim o mistério da Encarnação do Verbo. Nesse momento, com efeito, a segunda
Pessoa da Santíssima Trindade começa a Sua existência humana. O filho de Deus
faz Se Filho do Homem. O Deus Altíssimo torna-Se o “Deus conosco”.
Ao celebrar este mistério, precisamente nove
meses antes do Natal, a Solenidade da Anunciação orienta-nos já para o Nascimento
de Cristo. No entanto, a Encarnação está intimamente unida à Redenção. Por
isso, as Leituras (especialmente a segunda) introduzem-nos já no Mistério da
Páscoa. Essencialmente festa do Senhor, a Anunciação não pode deixar de ser, ao mesmo
tempo, uma festa perfeitamente mariana. Na verdade, foi pelo sim de Maria que a
Encarnação se realizou, a nova Aliança se estabeleceu e a Redenção do mundo
pecador ficou assegurada.
Assim se expressou São Leão Magno: “A
humildade foi assumida pela majestade, a fraqueza pela força, a mortalidade
pela eternidade. Para saldar a dívida da nossa condição humana, a natureza
impassível uniu-se à nossa natureza passível, a fim de que, como convinha para
nosso remédio, o único mediador entre Deus e os homens, o homem Jesus Cristo,
pudesse ser submetido à morte como homem e dela estivesse imune como Deus. Numa natureza perfeita e integral de verdadeiro homem nasceu o verdadeiro Deus,
perfeito na sua divindade, perfeito na sua humanidade. Por nossa humanidade
queremos dizer a natureza que o Criador desde o início formou em nós e que Ele
assumiu para a renovar.
Mas daquelas coisas que o Enganador trouxe e
o homem enganado aceitou, não há nenhum vestígio no Salvador; nem pelo fato de
se ter irmanado na comunhão da fragilidade humana Se tornou participante dos
nossos delitos. Assumiu a forma de servo sem mancha de pecado, elevando a
humanidade, não diminuindo a divindade: porque aquele aniquilamento pelo qual o
Invisível se fez visível, e o Criador e Senhor de todas as coisas quis ser um
dos mortais, foi uma condescendência da sua misericórdia, não foi uma quebra no
seu poder. Por isso Aquele que, na sua condição divina, fez o homem, assumindo
a condição de servo fez-Se homem”.
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