Testemunhar e anunciar a mensagem cristã, conformando-se com Jesus Cristo. Proclamar a misericórdia de Deus e suas maravilhas a todos os homens.

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sábado, 8 de março de 2014

O que é a piedade?


  A piedade é uma doce e santa disposição que Nosso Senhor Jesus Cristo coloca em nosso coração e que nos leva a amar a Deus como um Pai [1], e todos os homens como irmãos. A piedade cristã é o amor filial pelo bom Deus e o amor fraterno pelos homens. Jesus, Filho de Deus e irmão dos homens, torna, pela piedade, os nossos corações semelhantes ao seu. Como todas as graças, a piedade é um dom de Deus, um dom gratuito e sobrenatural, fruto dos méritos da Redenção, e derramado em nossas almas pelo Espírito Santo [2].

  Santo Agostinho a chama de “o culto verdadeiro do Deus verdadeiro [3]. Culto de amor e não de temor [4]. Culto do verdadeiro Deus vivo, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo e nosso Pai bem-amado [5]“. A piedade cristã não é somente o culto que prestamos a Deus como nosso soberano Senhor. Ela é, ademais, e, sobretudo, o culto de obediência filial, de ternura filial que lhe rendemos como nosso verdadeiro Pai. Ora, Deus só é nosso Pai em Jesus Cristo e por Jesus Cristo. Fazendo-se nosso irmão pelo mistério da Encarnação e nos incorporando em si pelo duplo mistério da graça e da Igreja, Jesus nos dá por Pai seu próprio Pai.

  Contudo, ao mesmo tempo, por esse mistério de misericórdia e de união, Jesus Cristo reúne todos os homens em uma única família espiritual e os torna assim verdadeiramente irmãos uns dos outros. Nele, com ele e por ele, amamos os homens como nossos irmãos, com o mesmo amor cujo amamos a Deus como nosso Pai. A piedade, sendo nada mais do que esse amor cristão por Deus, contém essencialmente por isso mesmo o amor fraterno pelos homens. Outrossim o Salvador diz em seu Evangelho que o mandamento do amor ao próximo é semelhante ao mandamento do amor a Deus [6]. A piedade se divide assim em dois amores distintos, porém inseparavelmente unidos: o amor filial de Deus e o amor fraterno do próximo.

  Como uma fonte donde jorram ao mesmo tempo dois regatos de uma vaga puríssima que unem suas águas e fertilizam assim a pradaria na qual elas serpenteiam, o coração de Jesus deixa correr em nossos corações fiéis um duplo regato de água viva que fecunda nossa alma e jorra até a vida eterna. Não devemos separa o que Jesus uniu no mistério da piedade cristã. E devemos sempre ter diante de nossos olhos a grande regra que São Pedro dava outrora aos nossos pais: “Esforçai-vos quanto possível por unir… à piedade o amor fraterno, sem isso, o conhecimento de Nosso Senhor Jesus Cristo vos deixará inativos e infrutíferos” (II Pe 1).

OEuvres de Mgr de Ségur. Tomo XII, La piété et la vie intérieure. Tradução de Robson Carvalho. Paris, Tolra, 1893, p.9-11.
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[1] Sum. Theol. 22e., quaest. CXXI.
[2] Ven. Card. Bellarm., conc. X, de Nativ. Dom.
[3] Epist. CLV.
[4] Epist. CLX.

[5] Ev. Joan, XX.

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