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terça-feira, 4 de março de 2014

A família sob o fio da navalha (Parte 1)


  O Papa Francisco convocou para outubro próximo a Assembleia Geral Extraordinária do Sínodo dos Bispos, para debater o tema “Os desafios pastorais sobre a família no contexto da evangelização”. Um questionário foi encaminhado a todas as dioceses, para reunir subsídios de reflexão que possam contribuir ao discernimento dos bispos, que apresentarão uma síntese ao papa, que poderá tomar decisões para enfrentar “as novas urgências pastorais que dizem respeito à família”, conforme expressou em sua carta às famílias. Conclui a carta, rogando a oração pelo Sínodo dos Bispos, “um tesouro precioso que enriquecerá a Igreja”.

  Sim, devemos rezar, e muito. Seguindo o lema de São Bento: “Ora et Labora”. E mais, conforme pediu o próprio Jesus: “Orai e vigiai!” Os tempos atuais, na vida da Igreja, requer oração e vigilância. Lembro-me da primeira votação que acompanhei do Projeto de Lei que visava legalizar o aborto no Brasil, em 7 de dezembro de 2005, na Comissão de Seguridade Social e Família, na Câmara dos Deputados, ocasião em que compareceu no plenário 7, o amigo Dom Geraldo Majella Agnelo, então presidente da CNBB. Em meio a votação, que por um voto apenas, rechaçou o PL 1135/91, um dos membros da Pastoral Familiar chegou-me a dizer que não conseguia entender o que estava acontecendo, de como a Igreja parecia ter sido enredada numa areia-movediça cultural, e que cada vez mais se via dando braçadas contra a corrente dominante, de uma cultura anti-cristã, mas que agia contra a Igreja, de modo sutil e sofisticado. Já naquele instante, ele me dissera perceber que a pressão era muito forte, que os meios de comunicação disseminavam, em novelas, filmes, programas de auditório, seriados etc., toda uma mentalidade corrosiva, agindo contra a moral católica, a moral familiar, a lei natural, e que ia acuando cada vez mais os religiosos e leigos atuantes na Igreja, mesmo na Pastoral Familiar das paróquias e dioceses, dando a impressão de que era preciso ceder, de que o mundo mudou mesmo, de que a realidade era outra e de que a maioria já não aceitava mais as restrições morais no campo familiar.


  Naquela votação de 2005, em meio ao movimento de gente entrando e saindo do plenário 7, ele me dissera: “estamos cada vez mais sem saber o que fazer”. E ainda: “há muito que a Igreja perdera seu protagonismo no campo legislativo, desde a aprovação do divórcio. Hoje é o aborto, amanhã o homossexualismo, depois a eutanásia. Já não sabemos como enfrentar tudo isso”. E então, posteriormente, relendo com mais atenção a “Evangelium Vitae”, e os demais documentos pontifícios sobre a questão da família, e ainda Jacques Leclerc, Michel Schooyans e outros autores, fui percebendo de que se tratava mesmo de um combate: o combate pela vida e pela família. E mais: não estávamos preparados para tal combate; pois os inimigos assumiram postos, se infiltraram, foram tomando posições diretivas, até mesmo dentro da Igreja. Muitos preferiram então abraçar o relativismo. Como fazer para dar conta dos inúmeros problemas, de várias situações de impasse, dos incômodos que se agudizaram decorrentes da mais grave crise sofrida pela instituição familiar, desde as primeiras civilizações da Antiguidade, há dez mil anos, quando ela se consolidou como a primeira e principal das instituições humanas? A tentação do relativismo falou mais forte. Para muitos, era preciso flexibilizar a moral, fazer justamente aquilo que os adversários da Igreja queriam, desde o início do combate: extenuá-la até forçá-la a aceitar a capitulação. “Não sabemos o que fazer, mas a crise é grave, gravíssima”, reconheceu o membro da pastoral familiar. E concluiu dizendo: “Temo que se aceitem as falsas soluções, as medidas mais fáceis, que em vez de proteger a família dos ataques intensos, irão fragilizá-la ainda mais, senão derruí-la de vez.”

Prof. Hermes Rodrigues Nery é especialista em Bioética, pela PUC-RJ.

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