Procuremos,
em primeiro lugar, compreender bem o que é um sacramento, donde vem e para que
serve. Esta simples noção fará cair já a maior parte das objeções, como,
perante a exposição clara da verdade, dissipam-se todos os erros. O catecismo
diz que “sacramento é um sinal sensível, instituído por Nosso Senhor Jesus
Cristo, para produzir a graça em nossas almas e santificá-las”. Desta definição
resulta que três coisas são exigidas para constituir um sacramento:
a) “Um sinal sensível”, representativo da natureza da graça produzida. Deve ser
“sensível” porque se não pudéssemos percebê-lo, deixaria de ser um sinal. Este
sinal sensível consta sempre de “matéria” e de “forma”, isto é, da matéria
empregada e das palavras pronunciadas pelo ministro do sacramento.
b) Deve ser “instituído por Jesus Cristo”, porque só Deus pode ligar um sinal
visível a faculdade de produzir a graça. Nosso Senhor, durante a sua vida
mortal, instituiu pessoalmente os sete sacramentos, deixando apenas à Igreja o
cuidado de estabelecer ritos secundários, realçá-los com cerimônias, sem
tocar-lhe na substância.
c) “Para produzir a graça”. Isto é, distribuir-nos os efeitos e méritos da
redenção que Jesus Cristo mereceu por nós, na cruz... Os sacramentos comunicam
esta graça, "por virtude própria", independente das disposições
daquele que os administra ou recebe. Esta qualidade, chamada pela teologia
"ex opere operato", distingue os sacramentos da "oração",
das "boas obras" e dos "sacramentais", que tiram a sua
eficácia "ex opere operantis" das disposições do sujeito.
Os protestantes ensinam que os sacramentos
são meras cerimônias exteriores, testemunhando que a graça está na alma, sem o
poder de infundi-la. É um erro fundamental e grosseiro. Para provar
irrefutavelmente a necessidade dos sacramentos, é preciso recorrer à sublime
doutrina da graça, ou da nossa vida sobrenatural. Verdade que os protestantes
não negam em seu princípio, mas em seus meios. Os sacramentos são, de fato, os
meios, os canais, para transmitir-nos a graça divina, os merecimentos de Jesus
Cristo.
A graça, que a teologia define “um dom
sobrenatural de Deus”, por causa dos méritos de Jesus Cristo, como meio de
salvação, é tudo na religião católica, é sua seiva, o seu sopro, a
sua alavanca. Querendo ou não, todos os homens devem viver da graça ou se
perderão eternamente. Ou escolhem a vida de Cristo que é a graça, ou a vida da
carne que é o vício; a salvação ou a perdição. Santo Agostinho define a graça
da seguinte forma: “A graça é como o prazer que nos atrai... Não há nada de
duro na santa violência com que Deus nos atrai... tudo é suave e benfazejo”
(Sermo 133, cap. XI). Esta palavra é admirável: a graça é um verdadeiro poder atrativo,
que provém à vontade, a estimula e leva a Deus, a atrai por deleitação
interior, e faz amar, como por instinto, Aquele que a nossa razão devia amar
acima de tudo: Deus. Este termo "atrativo" parece novo em teologia,
entretanto ele é a expressão da palavra de Nosso Senhor: "Ninguém pode vir
a mim, se Aquele que me enviou não o atrair" (Jo 8, 22). E esta outra:
"Uma vez levantado da terra, atrairei tudo a mim - omnia traham ad meipsum"
(Jo 12, 32).
A graça em seu princípio é, pois, a vida de
Deus em nós: "Participatio quaedam naturae divinae", diz Santo Tomás.
Para comunicar-nos a sua vida, Deus podia agir imediatamente sobre a nossa
alma; ele o faz às vezes. A simples elevação dos nossos corações, pela oração,
podia produzir este efeito, mas além desta ação imediata de Deus sobre a alma,
além do meio da oração, Deus instituiu meios particulares para comunicar-nos as
suas graças, meios obrigados, indispensáveis: estes meios são os
sacramentos.
Vejamos esta necessidade: está admiravelmente
descrita por S. Paulo (Rm 6, 1-14): “Permaneceremos no pecado, para que a graça
abunde? De modo nenhum” (6, 1). “Ora, se já morremos com Cristo, cremos que
também com ele viveremos”. “O pecado não terá domínio sobre vós, pois não
estais debaixo da lei, mas debaixo da graça”. Há, pois, duas vidas em nós: a
vida do pecado e a da graça. Ora, esta graça é o dom de Deus,
proveniente dos méritos de Jesus Cristo. É a seiva desta graça que deve
circular em nós: “Nós somos os ramos, Cristo é o tronco” (Jo 15, 4-5). Deve
haver união completa, íntima entre os meios de transmissão da graça e a alma
que recebe esta graça, como há união completa entre o tronco e os ramos.
Na oração e nas boas obras esta união
completa não existe... Deve haver outro meio e este meio são os Sacramentos. Os
Sacramentos tornam-se, neste sentido, os canais transmissores da graça divina
às almas. Canais estabelecidos por Jesus Cristo e, portanto, necessários.
Fonte:
Pe. Júlio Maria in “Luz nas trevas”, 1955.
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