Alguns estão preocupados com
as mudanças ocorridas com relação ao ensinamento da Igreja sobre os católicos
divorciados e recasados. Podemos garantir aos fiéis que as mudanças serão de
tipo mais pastoral que doutrinal?
Resposta do cardeal:
Em primeiro lugar, agradeço o fato de que a sua
pergunta me dá a oportunidade de esclarecer um ponto importante. A ideia
de que a doutrina possa ser separada da prática pastoral da Igreja se
tornou habitual em alguns círculos. Essa não é nem nunca foi a fé católica. Os
últimos papas têm se esforçado para ressaltar o caráter vital e pessoal da fé
católica. O Papa Francisco escreveu «Não me canso de repetir aquelas palavras
de Bento XVI que nos levam ao próprio centro do Evangelho: “Não se começa a ser
cristão por uma decisão ética ou uma grande ideia, mas sim pelo encontro com um
acontecimento, com uma Pessoa, que dá um novo horizonte à vida e, com ele, uma
orientação decisiva” (Evangelii Gaudium, 7).
Dentro dessa relação pessoal
com Cristo, que abrange as nossas mentes, nossos corações e a totalidade de
nossas vidas, podemos compreender aprofunda unidade entre as doutrinas em que
acreditamos e a forma em que vivemos nossas vidas, ou aquilo que poderíamos
chamar a realidade pastoral de nossa vivencia pessoal. A oposição entre o
que é pastoral e o que é doutrinal é simplesmente uma falsa dicotomia.
Em segundo lugar, temos que ter muito
cuidado ao falarmos dos ensinamentos da Igreja. Se por «mudança» se quer dizer
negar ou rejeitar o que existia anteriormente, isso seria um erro. Eu
preferiria falar de «desenvolvimento» dos ensinamentos da Igreja. A Igreja
não inventa por si mesma aquilo que ensina.Os ensinamentos da Igreja estão
enraizados na pessoa de Cristo, no mistério de Deus que se revela.
Pode ser que, com o passar do tempo, a Igreja
chegue a um entendimento mais profundo desse mistério. Pode ocorrer também que
novas circunstâncias na história dos homens lancem uma luz concreta sobre as
consequências desse mistério. Porém, devido ao que está enraizado no mesmo
mistério de Cristo, sempre há uma continuidade naquilo que a Igreja ensina.
Em terceiro lugar, referindo-me
especificamente à questão da admissão à comunhão eucarística dos divorciados
recasados, faço
referência ao artigo publicando no L´Osservatore Romano. Sem dúvida,
gostaria de recordar alguns pontos que observei na época. Primeiro, o
ensinamento de Cristo e sua Igreja é claro: um matrimônio sacramental é
indissolúvel. Segundo, as pessoas cujo estado de vida contradiz a
indissolubilidade do matrimônio sacramental não podem receber a Eucaristia.
Terceiro, os pastores e as comunidades paroquiais são chamados a apoiar os
fiéis que se encontram nessa situação com «solícita caridade» (Familiaris
Consortio 84). A preocupação da Igreja por seus filhos que estão
divorciados e recasados não pode ser reduzida à questão da recepção da
Eucaristia, e estou seguro de que a Igreja, arraigada na verdade e no amor,
descobrirá os caminhos e abordagens corretos de formas sempre novas.
Em relação a possíveis mudanças doutrinais, o
cardeal adverte na entrevista que é necessário distinguir entre a realidade e a
forma em que aquela é apresentada pelos meios de comunicação: Em particular, os
meios seculares frequentemente interpretam mal a Igreja. Infelizmente, eles
aplicam o modo de pensar do âmbito da política à Igreja. Um líder político
recém-eleito pode modificar ou revocar a política de seu partido. Isso não se
aplica a um Papa. Quando um Papa é eleito, a sua missão é ser fiel aos
ensinamentos da Igreja e de Cristo. Pode-se encontrar modos novos e criativos
de ser fiel a esses ensinamentos, porém, para o Papa, a realidade mais profunda
é a contínua fidelidade à pessoa de Cristo. Se os meios de comunicação criaram
expectativas errôneas, então, estamos diante de algo lamentável.
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