Um dos aspectos mais
lamentáveis da profunda crise que se abateu sobre a Igreja em nossos dias é o
que ocorre em certos conventos femininos: freiras igualitárias não aceitam
superioridades e querem até se tornar sacerdotes. Bem ao contrário dessas
freiras progressistas, Santa Escolástica - cuja festa celebra-se a 10 de
fevereiro - constitui magnífico exemplo de espírito hierárquico, amando as
desigualdades queridas por Deus, voltada para as mais altas cogitações e
praticando pureza ilibada.
De
nobre estirpe
Nascida em 480 na cidade de Núrsia, na Úmbria
(região central da Itália), de família nobre, Santa Escolástica era irmã gêmea
do grande Patriarca dos Monges do Ocidente, São Bento. Logo depois que seu
santo irmão abandonou o mundo e foi para a gruta de Subiaco (próxima de Roma),
imitou-o, guardando a virgindade, e levando vida de oração e recolhimento.
E quando São Bento fundou a Abadia de Monte
Cassino, Santa Escolástica, acompanhada de muitas outras virgens, foi procurar
o irmão para pedir-lhe conselho.
Rigor
de São Bento
Tal era a vigilância de São Bento que não
permitia a nenhuma mulher entrar no Mosteiro, nem mesmo sua irmã. Assim,
atendeu-a do lado de fora, e indicou-lhe o fundo de um vale como local para ali
se estabelecer com suas filhas espirituais.
Com a maior humildade, Santa Escolástica
aceitou a orientação do irmão e, juntamente com as outras virgens, passou a
viver num mosteiro construído no local escolhido por São Bento. Assim nasceu a
Ordem segunda dos beneditinos, da qual Santa Escolástica é Fundadora. Tal Ordem
difundiu-se de modo tão prodigioso que chegou a possuir 14 mil conventos em
todo o Ocidente.
Apesar de Santa Escolástica ser sua irmã, o
Santo Patriarca permitia ser visitado por ela apenas uma vez por ano. A santa
aceitava essa restrição com espírito humilde e submisso.
Para tais conversas São Bento ia sempre
acompanhado por monges e Santa Escolástica por monjas. Exemplo de castidade
ilibada, meticulosa e vigilante da parte de ambos os santos. Aplica-se-lhes
literalmente o antigo e sábio adágio: "Entre santa e santo, muro de cal e
canto".
Tempestade
miraculosa
A última conversação que Santa Escolástica
manteve com seu irmão é narrada por São Gregório Magno na esplêndida obra Vida
e Milagres de São Bento. "Um dia - escreve São Gregório Magno - veio ela
como de costume, e seu venerável irmão desceu a vê-la acompanhado de alguns
discípulos. Passaram todo o dia em louvores ao Senhor e em santas conversações,
e ao anoitecer tomaram juntos uma refeição. Estando ainda sentados à mesa, como
cada vez mais se prolongasse a hora naquele santo colóquio, Santa Escolástica rogou
a São Bento: "Suplico-te que não me deixes esta noite, para que possamos
falar até amanhã das alegrias da vida eterna". Mas ele respondeu: "Que
estás dizendo, irmã? De modo algum posso permanecer fora do mosteiro". O
céu estava tão sereno que nenhuma nuvem se avistava em todo o firmamento. A
santa religiosa, ao ouvir a negativa do irmão, entrelaçando sobre a mesa os
dedos das mãos, apoiou nelas a cabeça para orar a Deus todo-poderoso. Quando a
levantou, era tal a violência de raios e trovões, e tal a enxurrada que a chuva
produzia, que nem São Bento nem os irmãos que o haviam acompanhado podiam
sequer transpor os umbrais do local em que estavam abrigados.
Efetivamente, a devota mulher, quando apoiou
a cabeça sobre as mãos, havia derramado sobre a mesa uma torrente de lágrimas,
as quais tiveram como efeito fazer com que a serenidade do céu se transmutasse
em chuva copiosa. Vendo então o homem de Deus que em meio a tantos relâmpagos e
trovões, e com a chuva torrencial, não lhe era possível regressar ao mosteiro,
entristecido começou a queixar-se: “Que Deus onipotente te perdoe, irmã. Que
foste fazer?" E ela: "Ora, pedi a ti, e não me quiseste escutar; pedi
então ao Meu Senhor e Ele me ouviu ...” E assim foi que passaram toda a noite
acordados, nutrindo-se ambos na mútua conversação e em santos colóquios sobre a
vida espiritual. No local onde ocorreu o milagre da tempestade, foi depois
erigido um oratório que recebeu o nome de Capela do Colóquio.
Conversas
sérias, fruto de altas cogitações
Não podemos deixar passar o fato sem um breve
comentário. Os temas das conversas dos santos irmãos eram sublimes porque provinham
de altíssimas cogitações. Lembremo-nos sempre de que no dia do Juízo Deus nos
pedirá conta de toda palavra ociosa.
Na Ladainha de todos os Santos há
esta belíssima invocação: "Para que Vos digneis elevar as nossas almas às
coisas do Céu, nós Vos rogamos, ouvi-nos". Era esse desejo das coisas
celestes que ardia nas almas de São Bento e Santa Escolástica e produzia
conversas tão cheias de unção.
Três
dias depois, aos 67 anos morte de Santa Escolástica
No dia seguinte a venerável fundadora
beneditina voltou à sua morada, retornou também à sua o servo de Deus. Três
dias depois, estando São Bento no mosteiro, levantando os olhos ao céu viu a
alma da irmã, desprendida de seu corpo, penetrar em forma de pomba nas regiões
celestiais.
Compartilhando com ela a alegria por tanta
glória, deu graças a Deus onipotente com louvores e cânticos, anunciou a sua
morte aos monges, e enviou-os logo para que trouxessem o corpo ao mosteiro,
onde o depositaram na sepultura que ele havia preparado para si mesmo.
Era 10 de fevereiro de 547. São Bento morreu
40 dias depois, em 21 de março. Que do alto do Céu Santa Escolástica reze por
nós e nos obtenha da Santíssima Virgem o amor às justas desigualdades, à
pureza, bem como a recusa completa ao igualitarismo e à sensualidade reinantes
neste triste final de século. Peçamos-lhe também livrar-nos do espírito
prosaico, e conseguir que nossas mentes estejam sempre voltadas para o desejo
das coisas celestes.
Fontes
de referência:
São Gregório Magno, Vida
e Milagres de São Bento, Artpress Indústria Gráfica e Editora Ltda., São Paulo,
1995.
- Pe. José Leite, SJ, Santos
de Cada Dia, Editorial A.O., Braga, Portugal, 1987.
- Enciclopédia
Cattolica, Cidade do Vaticano, 1953, Vol. XI.
Fonte: Portal Catolicismo
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Você pode deixar seu comentário ou sua pergunta. O respeito e a reverência serão sempre bem vindas.