Iniciamos com
a Quarta-feira de Cinzas o tempo da Quaresma. É um tempo propício de reflexão e
de oração, um itinerário espiritual que todos devemos fazer. É o Senhor mesmo a
nos guiar neste caminho de sacrifício e silêncio. E nos guia para onde? Para
ver o quê?
Bem,
primeiramente, vale lembrar que o deserto teve sempre na concepção cristã um
duplo sentido: encontro com Deus e lugar de provação. Encontramos Deus no
silêncio, na paz, no despojamento dos excessos, na oração... E somos provados
na tentação da ganância, da vaidade, da falta de fé (substituição do crer pelo
fazer), da raiva... Certamente já experimentamos ambas as coisas, o encontro
com Deus e as provações, em nossa vida. Então, por que não dizer que a vida e o
deserto de igualam? Creio que sim; e aqui está minha primeira resposta: o
Senhor nos guia, no tempo da Quaresma, por dentro de nossa própria vida para
encontrar, nos vestígios da passagem, o próprio Deus e a sua mensagem. No
entanto, para ver a Deus na nossa vida e descortinarmos sua mensagem, é preciso
que o nosso olhar seja o de Cristo.
O olhar de
Cristo se distingue de outros por sua
intenção, por seu desejo e por sua forma:
- Por sua
intenção: o olhar de Cristo deixa entrever, claramente, que não intenciona
outra coisa senão a salvação de cada homem;
- Por seu
desejo: o olhar de Cristo revela o seu desejo de estar com os fracos, os
pequenos, os pobres, os humildes, enfim, todos os necessitados de amor;
- Por sua
forma: o olhar do Senhor se debruça de forma sincera, verdadeiramente, sobre os
que se põem em seu caminho.
O Misterioso
olhar de Cristo pode ser desvendado por cada um de nós quando, imitando o
mesmo, lançamos sobre o próximo um olhar de novidade e misericórdia, de verdade
e de acolhimento... A Quaresma que ora iniciamos, quer ser ocasião profunda de
renovação do nosso olhar, um modo para nos conformarmos ao olhar de Cristo. Assim, o jejum, a esmola e a oração que
intensificamos neste tempo, não é somente um olhar sobre nós, mas também sobre
a realidade que nos cerca um olhar de conversão íntegra: para mim e para o
outro.
Que este tempo
seja para nós, de reflexão sobre nossa própria vida, sobre Deus nela e nós
n’Ele, fazendo-nos superar nossas imperfeições para nos achegar à graça da
conversão. E que esta experiência nos leve a ter mais Deus em nós, pois, como
dizia a Beata Teresa de Calcutá, “quem não dá Deus, dá demasiado pouco”. Que tenhamos
Deus! Que demos Deus!
Com uma
bênção,
Pe.
Helcimar Sardinha
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