Vivemos uma crise. É visível
sobretudo na Europa. É evidente na Alemanha. Mas, se eu conversar com os bispos
italianos, eles me contarão as mesmas coisas. Muitos dos jovens, sobretudo, não
têm nenhum contato real com a vida da Igreja e com os sacramentos. Se falamos
em nova evangelização, não podemos deixar de tomar consciência disso. Do
contrário, acabamos por fazer coisas acadêmicas.
É Deus quem mantém a porta da fé aberta, para
nós e para todos. Não somos nós que podemos ou devemos nos preocupar em
abri-la. Por isso, o início da fé é sempre possível. Não se trata de uma
conquista nossa. A fé tem a característica de um dom que sobrevém, que não pode
ser deduzido, que não pode ser “produzido”. Em meio à secularização, Deus tem
seus caminhos para tocar o coração de cada homem. O coração daqueles que buscam
e também o daqueles que não buscam. E são caminhos que nós não conhecemos.
Em primeiro lugar, a fé é uma relação pessoal
com Deus, que se expressa na oração e na confiança de sermos carregados nos
braços por Deus em qualquer situação, ou, como Jesus diz: amar a Deus de todo o
coração. Os teólogos falam de uma virtude teologal. Porém, nesse primeiro
mandamento o amor de Deus está imediatamente conectado com o amor ao próximo
como a nós mesmos. Assim, a fé tem consequências sociais, culturais e políticas
sem as quais não seria sincera. Por outro lado, essas consequências devem ser animadas
e motivadas pelo amor a Deus, senão se tornam uma forma de ideologia humanista,
que fica sem fundamento firme. Penso na pregação nas igrejas, no domingo.
Nenhuma outra realidade humana tem essa oportunidade de alcançar tantas pessoas
que vêm ouvir espontaneamente. Mas às vezes as homilias parecem apenas
instruções sobre o que os cristãos devem e não devem fazer em nível moral,
cultural, político; falta frequentemente a mensagem cheia de alegria de que
Deus sempre nos precede com a sua graça.
Na fé, as pessoas são levadas, quer no
início, quer ao longo do caminho da vida. Nas experiências da vida descobrimos
cada vez mais as riquezas da fé. Não somos nós que conservamos a fé, como uma
propriedade adquirida. Nós somos preservados na fé. Escreveu Santo
Tomás: “A graça cria a fé não apenas quando a fé nasce numa pessoa, mas por
todo o tempo que a fé dura”. Usamos essa definição no quadro do acordo com os
luteranos, quando reconhecemos a identidade fundamental existente entre a
teologia de Lutero sobre a justificação pela fé e aspectos essenciais da
doutrina do Concílio de Trento definida no decreto De iustificatione. Isso
significa que o dom da fé não é uma espécie de impulso, um empurrão que alguém
nos dá no início, e depois prosseguimos sozinhos. E também não é como os
sistemas de iluminação das pistas dos aeroportos: luzes cimentadas no asfalto
para iluminar todo o percurso. A fé se assemelha muito mais a uma lanterna que
carregamos na mão, e se move conosco iluminando o breve trecho de caminho que
temos à nossa frente. A sua luz é necessária e suficiente para dar o próximo
passo.
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