Desde
à Galiléia, passando pela Judéia e se estendendo a todo o império romano, a
história dos cristãos sempre foi de perseguição e morte. Seguir os ensinamentos
de Jesus não era mera piedade para os governantes, mas uma verdadeira escola de
insubordinação, de política revolucionária. E digamos que, em parte, era assim
mesmo, pois os cristãos, ainda que respeitassem à autoridade constituída,
tinham somente a Deus por seu Senhor. Dessa obediência irrestrita a Deus,
viriam práticas e pensamentos muito particulares e que se colocavam muitas
vezes contrários aos dos imperadores. Isso, claro, trouxe um acirramento das
relações entre cristãos e Império Romano.
Os cristãos viviam entre perseguições mais
agudas e menos fortes, mas sempre foram tratados como marginais. Em 250, o
imperador Décio iniciou uma nova onda de perseguições mais cruéis. Ordenou aos
cristãos que oferecessem sacrifícios aos deuses romanos e os que não fizessem
pagariam com a vida. E assim foi, milhares de cristãos se recusaram e, depois
de presos, cruelmente assassinados. Os Papas seguiam o mesmo caminho: Fabiano
morreu na prisão e Sisto II decapitado. Apesar das torturas, mutilações e
mortes, os cristãos perseveravam em sua fé e começavam a atrair algumas
famílias influentes de Roma, por seus exemplos e virtudes, como Helena, a mãe
de Constantino. Esse fato significante mudará a vida dos cristãos.
Em 312, Constantino inicia sua luta contra
Maxêncio, a fim de se manter à frente do poder do ocidente. Neste período,
menos por influência da mãe e mais por uma visão política, Constantino se
aproxima cada vez mais do cristianismo. É verdade que continua pagão, seguidor
do enoteísmo solar, mas cresce sua curiosidade e interesse pela “onda cristã”
que se instala em seu reino.
Segundo a “Vida de Constantino”, escrita por
Eusébio, antes do confronto definitivo com Maxêncio, aconteceu uma “visão” da
cruz e das palavras “Com esse sinal vencerás”; visão, mero sonho ou apenas uma
prece de Constantino ao Deus dos cristãos, a verdade é que a vitória aconteceu
e também o início da conversão do imperador. Será apenas um começo de
conversão, pois além de ainda estar ligado a práticas pagãs, suas ações e
interesses políticos não permitirão a Constantino dar um passo definitivo para
a via cristã, o que ocorrerá somente em seu leito de morte, quando recebe,
enfim, o batismo e morrendo como o primeiro imperador cristão.
Após sua vitória, Constantino se dirige a
Milão, para se encontrar com o imperador do Oriente, Licínio, que acabara de se
casar com sua irmã Constança. Parece que Oriente e Ocidente estão cada vez mais
unidos. Os cunhados conversam sobre tudo e sobre as políticas que implementarão
a partir daquele momento. Entre fevereiro e março daquele ano de 313, surge o
Edito ou Édito de Milão. Este documento não chegou até nós e talvez tenha sido
apenas algum dos protocolos que ambos os imperadores tenham assinado em prol
dos impérios. O que temos são cartas de Constantino e Licínio e rescritos que
indicavam uma nova política de ação para o Estado, confeccionada por ambos os
imperadores.
O Edito de Milão trazia como consequências os
seguintes pontos:
A liberdade
de religião é para todos, inclusive para os cristãos;
Os bens confiscados da Igreja serão todos restituídos;
A Igreja receberá do Império custeio para reconstruir suas propriedades
e doações para novas construções.
Não é difícil perceber como esta nova ordem
trouxe um bem enorme à Igreja e revolucionou a expansão do cristianismo. A
“revolução da cruz” ou “paz constantiniana” foi um dos grandes acontecimentos
para a História do cristianismo que mudou o curso do mundo. A partir dessa
época, a Igreja foi ganhando pouco a pouco o status de “religião do Estado”,
ampliando suas comunidades, voltando a convocar Concílios (agora com a presença
dos imperadores) e solidificando sua fé.
A construção das grandes basílicas tanto no
ocidente como no oriente e o desenvolvimento do culto cristão, em sua liturgia
e paramentaria, fez a Igreja e os cristãos alcançarem um patamar nunca antes
alcançado ou pensado. O cristianismo, então uma religião de muitos adeptos,
estava tornando-se a religião preferida da maioria. Já em 321, o Domingo ganha
o favor de ser “dia especial” para descanso e culto. Mais tarde a morte por
crucificação é abolida e a cruz foi adotada como símbolo e passou a figurar nos
estandartes e escudos. As peregrinações aos lugares santos iniciaram com toda a
força; os cristãos não só poderiam visitar a Terra santa e outros lugares do
império, como também eram acompanhados nos caminhos mais perigosos por
soldados. Todos esses benefícios e muitos outros, vieram do Edito de Milão que
passou à História como um dos maiores acontecimentos em prol do cristianismo.
BIBLIOGRAFIA
BLAINEY, Geoffrey. Uma breve história do cristianismo. São Paulo: Fundamento, 2012.
PIERINI, Franco. A idade antiga – Curso de História da Igreja I. São Paulo: Paulus, 1998.
ROPS, Daniel. A igreja dos
Apóstolos e dos Mártires. São Paulo: Quadrante, 1988.
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