Falar de Deus
quer dizer, antes de tudo, ter bem claro o que devemos levar aos homens e às
mulheres do nosso tempo: não um Deus abstrato, uma hipótese, mas um Deus
concreto, um Deus que existe, que entrou na história e está presente na
história; o Deus de Jesus Cristo como resposta à pergunta fundamental do porquê
e do como viver. Por isso, falar de Deus exige uma familiaridade com Jesus e
com deu Evangelho, supõe um nosso conhecimento pessoal e real de Deus, e uma forte
paixão pelo seu desígnio de salvação, sem ceder à tentação do sucesso, mas
seguindo o método do próprio Deus. O método de Deus é o da humildade – Deus
faz-se um de nós – é o método realizado na Encarnação na simples casa de Nazaré
e na gruta de Belém, o da parábola do pequeno grão de mostarda. É preciso não
temer a humildade dos pequenos passos e confiar no fermento que se mistura a
massa e que, lentamente a faz crescer (cf. Mt 13,33).
Ao falar de Deus na obra
da evangelização, sob a guia do Espírito Santo, é necessária uma recuperação da
de simplicidade, um retorno ao essencial do anúncio: a Boa Notícia de um Deus
que se interessa por nós, em Deus-Amor que se faz próximo de nós em Jesus
Cristo até à Cruz, e que na Ressurreição nos doa a esperança e nos abre para
uma vida que não tem fim, a vida eterna, a vida verdadeira. Aquele comunicador
extraordinário que foi o apóstolo Paulo oferece-nos uma lição que vai
precisamente ao cerne da fé, do problema de “como falar de Deus” com grande
simplicidade. Na Primeira Carta aos
Coríntios, ele escreve: "Também eu, quando fui ter convosco, irmãos, não
fui com o prestígio da eloquência nem da sabedoria, anunciar-vos o testemunho
de Deus. Julguei não dever saber coisa alguma entre vós, senão Jesus Cristo, e
Jesus Cristo crucificado" (2,1-2). Portanto, a primeira realidade é que Paulo
não fala de uma filosofia por ele desenvolvida, não fala de idéias que
encontrou alhures ou que inventou, mas fala do Deus que entrou na sua vida,
fala de um Deus real que vive, falou com Ele e falará conosco, fala de Cristo
crucificado e ressuscitado. A segunda realidade é que Paulo não se procura a si
mesmo, não quer criar para si um grupo de admiradores, não quer entrar na
história como chefe de uma escola de grandes conhecimentos, não se procura a si
mesmo, mas Paulo anuncia Cristo e deseja conquistar as pessoas para o Deus
verdadeiro e real. Paulo fala só com o desejo de anunciar aquilo que encontrou
na sua vida, e que é a vida autêntica, que o arrebatou no caminho de Damasco.
Portanto, falara de Deus que dizer reservar espaço Àquele que no-lo faz
conhecer, que nos revela o seu rosto de amor; quer dizer expropriar o próprio
eu, oferecendo-o a Cristo, na consciência de que não somos nós que podemos
conquistar os outros para Deus, mas devemos esperá-los do próprio Deus,
invocá-los dele. Portanto, falar de Deus nascer da escuta, do nosso
conhecimento de Deus que se realiza na familiaridade com Ele, na vida da oração
e segundo os Mandamentos.
Comunicar a
fé, para são Paulo, não significa anunciar-se a si mesmo, mas dizer aberta e
publicamente aquilo que viu e sentiu no encontro com Cristo, quando
experimentou na sua existência já transformada por aquele encontro: é anunciar
aquele Jesus que sente presente em si e se tornou a verdadeira orientação da
sua vida, para levar todos a compreender que Ele é necessário para o mundo e é
decisivo para a liberdade de cada homem. O apóstolo não se contenta com
proclamar palavras, mas envolve toda a sua existência na grande obra da fé.
Para falar de Deus, é necessário reserva-lhe espaço, na confiança de que é Ele
quem age na nossa debilidade: reserva-lhe espaço sem medo, com simplicidade e
alegria, na convicção profunda de que quanto mais O pusermos no centro, Ele e
não nós, tanto mais a nossa comunicação será frutuosa. E isto é válido também
para as comunidades cristãs: elas são chamadas a mostrar a ação transformadora
da graça de Deus, superando individualismos, fechamentos, egoísmos, indiferenças
e vivendo o amor de Deus nos relacionamentos quotidianos. Perguntemo-nos se as
nossas comunidades são verdadeiramente assim. Temos que agir, para nos
tornarmos sempre e realmente assim, anunciadores de Cristo e não de nós mesmos.
Bento XVI
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Você pode deixar seu comentário ou sua pergunta. O respeito e a reverência serão sempre bem vindas.