2.2.:
A doutrina
Para entender a discretio na Santa Regra, devemos primeiramente nos voltar para a
figura de seu doutrinador (São Bento) e logo após apresentar sua doutrina a
partir de seu tutor (o abade).
Em sua juventude, São Bento fora eremita em
Subiaco e, certamente, sofrera as dificuldades próprias deste estado de vida,
acentuadas ainda mais por sua tenra idade. Também deveria conhecer os rigores
da ascese oriental, imitada no Ocidente pelas Comunidades de monges de então.
Após sua jornada como eremita, inicia a vida cenobítica não sem sofrimentos e
desafios. É neste contexto que o Santo Patriarca vai tomar a discrição como fio
condutor de sua vida espiritual e da condução de seus monges, tornando sua
Regra uma “sábia lei da proporção e da medida” (Dom tomaz Graf OSB).
Na obra “San Benito, su vida y su Regla”, encontramos
importante chave de leitura para entendermos a discrição em São Bento,
inserindo tal virtude no “espírito romano”, do qual o Santo Patriarca estava
imbuído. Segundo os autores, “o espírito romano” possuía três características
que marcaram, definitivamente, a personalidades moral de São Bento: a autoridade, a ordem e a discrição.
· Autoridade: A vida no mosteiro e seu desenvolvimento
se dão mais pela autoridade do abade que propriamente a interferência da
comunidade de monges. Não há lugar para uma “democracia”; será sempre São Bento
quem decidirá, disporá as coisas, apresentará as satisfações, etc. : “Portanto,
em sua doutrina deve sempre o abade observar aquela fórmula do Apóstolo:
‘Repreende, exorta, admoesta’”(RB 2,23); “Portanto, tudo deve ser feito com a
vontade do abade”(RB 49,10);
· Ordem: O temperamento de São Bento se assemelha ao de
um líder, de um chefe romano. Quer tudo bem organizado e que tudo se cumpra com
perfeição, “para que em todas as coisas Deus seja glorificado” (RB 57,9): “E
se, tendo deliberado consigo mesmo, prometer guardar todas as coisas e observar
tudo quanto lhe foi ordenado, seja então recebido na comunidade (...)” (RB
58,14);
· Discrição: Este dote do temperamento romano passará a
ser a marca da virtude sobrenatural de São Bento. “Misericórdia e justiça,
força e doçura, natureza e graça, lei e privilégio, caridade e disciplina, tudo
na Regra fala em perfeito equilíbrio; a severidade do Mestre e a bondade de pai
brilham ao mesmo tempo (...)” (cf. San Benito, su vida y su Regla); “(...) faça
então o abade como sábio médico: se aplicou as fomentações, os ungüentos das
exortações, os medicamentos das divinas Escrituras e enfim a cauterização da
excomunhão e das pancadas de vara e vir que nada obtém com sua indústria,
aplique então o que é maior: a sua oração e a de todos os irmãos por ele (...)”
(RB 28,2-4).
Tais características do “espírito romano” já
estariam em embrião no jovem Bento que, após sua passagem por Roma, amadurecera
sua personalidade e abraçaria sua vocação.
Afora elucubrações, importa a nós saber que a
doutrina da discretio foi sendo
tecida na personalidade de São Bento graças aos seus estudos e meditações (AT,
NT, Santos Padres Católicos, Colações, Instituições, Regra de São Basílio, etc
; cf RB 73,3-5) e à sua experiência cenobítica. Ambos, os estudos e a
experiência cenobítica, darão origem ao patrimônio espiritual e legislativo de
São Bento do qual estabelecerá como guardião autêntico o abade. “A discrição
fará que o abade disponha todas as coisas, tanto espirituais como temporais de
tal modo, que os monges fortes desejem mais e os débeis não se desencorajem:
‘non refugiant’” (La Regla de San Benito).
Em toda a Regra, o abade é chamado a
“interpretá-la praticamente, adaptando-a às circunstâncias e aos temperamentos”
(San Benito, su vida e su Regla). Daí ser a discrição a grande virtude a ser
alcançada por todo abade, fazendo-o determinar o melhor possível; apresentar os
melhores meios para adquirir um fim; aplicar a lei com eqüidade e, sobretudo,
buscar o bem estar dos fracos, dos pusilânimes, dos idosos, dos jovens...
A discrição tem diante de si a realidade. Por
isso, tanto aos monges bons, virtuosos, obedientes, pacientes, piedosos como
aos monges frívolos, soberbos, insolentes, indisciplinados, preguiçosos o abade
deve atender. Como “pius pater”, ele deve ter um tino: “(...) é o tino
maravilhoso que se deve ter para distinguir, primeiramente, as capacidades e as
indigências de cada alma, o seu forte e o seu fraco, os seus recursos e as sua
lacunas, o que ela dá e o que ela poderia dar; tino para distinguir, depois, os
meios a empregar a fim de retirar dessa alma todo o proveito possível para
Deus, para ela mesma e para os irmãos” (Dom Germain Morin OSB). Depreende-se
disto, que a virtude da discrição também estará ligada à sensibilidade do abade
que se ocupará de cada pormenor, junto dos irmãos.
A minha pergunta é sobre Eusébio de Cesareia e Santo agostinho. Eusébio, em seu livro história eclesiástica, afirma que o Verbo de Deus apareceu a Abraão quando sentado no carvalho de mambré Gn 18, 1-25, ou seja o próprio Jesus na forma humana. Já Santo Agostinho, em seu livro cidade de deus II capítulo XXIX, afirma que Abraão,sobre o carvalho de mambré, viu anjos sem dúvida refutando o pensamento de alguns que nessa aparição afirmam ser o próprio cristo.
ResponderExcluirA pergunta que faço: Hoje, com o verbo revelado, podemos sustentar que os anjos, onde Abrão chama de meu senhor, também está, ocultamente, se manifestando o Cristo de Deus, pois Ele é consubstancial ao Pai ? E porque Agostinho afirma que são puramente anjos e não também o Verbo de Deus, claro ainda não manifesto?
Em Mateus 21. 12 Jesus expulsa os vendilhões do templo.
ResponderExcluirPergunto: a virtude da descrição, em justa causa, pode nos levar a atos públicos em defesa da fé ou esses atos públicos somente devem ser feitos dentro de assembléias cristãs ? Me refiro a atos que a vistas de outrem pareçam grosseiros, exemplo Mateus 21. 12