Testemunhar e anunciar a mensagem cristã, conformando-se com Jesus Cristo. Proclamar a misericórdia de Deus e suas maravilhas a todos os homens.

Páginas

domingo, 13 de janeiro de 2013

Homilia da Festa do Batismo do Senhor



  Completamos hoje, com a Festa do Batismo do Senhor, o ciclo litúrgico da Encarnação ou do Natal. Não apenas nos alegramos com a vinda de Cristo, em Belém, mas também recebemos do Senhor a mensagem de vida nova que devemos ter, como batizados. Deus se fez luz e nos iluminou. Agora também nós devemos iluminar o mundo, sendo um reflexo do amor de Deus.

  Nesta Festa do Batismo do Senhor, também tive a alegria de administrar o Sacramento do Batismo a alguns recém nascidos, que os pais apresentaram à Igreja. Sejam bem-vindos, queridos pais e mães destes pequeninos, e vocês padrinhos e madrinhas, amigos e parentes, que também estão aqui conosco. Demos graças a Deus, que hoje chamou estas crianças a tornarem-se seus filhos e participarem da Comunidade cristã, a Igreja que, a partir de hoje, se torna também a família deles.

  Hoje Jesus inicia seu ministério público e o faz precisamente, revelando-se nas margens do Jordão, ao povo de Israel. Na passagem que lemos há pouco, São Lucas nos diz que o povo “esperava”. Assim, o evangelista nos mostra a expectativa de Israel, o desejo de ver o Messias, a vontade de acolher o Filho de Deus. Hoje, não vivemos mais esta expectativa. O Messias já chegou, o Filho de Deus já veio à Terra. No entanto, como ainda vivemos como se Deus não tivesse nos redimido... ainda se vive como se Deus não estivesse por perto... ainda vivemos como se Deus não existisse. Muitos homens e mulheres de hoje ainda vivem falsas expectativas: esperam milagres, quando não creem neles; esperam mudanças em suas vidas, mas não dão início a elas; esperam que Deus lhes fale, mas eles não iniciam o diálogo na oração. Há homens e mulheres que buscam a felicidade plena, mas Deus fica fora deste projeto; buscam a paz, mas não se reconciliam com o Criador; querem a bênção, mas não se fazem bênção para os outros; querem a beleza e a saúde, mas não progridem nas virtudes, nem restauram a imagem de Deus neles...

  A teologia batismal nos diz que esse sacramento existe para nos tornar filhos de Deus, apagar o pecado original e nos incorporar à Igreja de Jesus. Ora, Cristo já era Filho de Deus, não possuía pecado algum e foi o Fundador da Igreja, então por que quis se batizar? Jesus, como vai explicar, “quer cumprir toda a justiça, toda a lei”; com uma profunda humildade, que lembra a pobreza e a simplicidade de Belém, pede e aceita o batismo dado por São João. O Filho de Deus, Aquele que é sem pecado, coloca-se entre os pecadores; o Filho de Deus, Aquele que é o Senhor, coloca-se entre os servos; o Filho de Deus, Aquele que não tem necessidade, coloca-se entre os necessitados. Jesus, saindo das águas vê, com a multidão e o Batista, o céu se abrir. Aquele céu fechado por Adão e Eva, agora é reaberto por Jesus e Maria! A Voz do Pai, a presença do Filho e o sobrevoo do Espírito, em forma de pomba, é a manifestação da Trindade entre os homens.

  Hoje foram batizadas algumas crianças na fé da Igreja, fé esta professada pelos pais e padrinhos e proclamada por todos nós. O rito do Batismo trouxe à memória com insistência o tema da fé já no início, quando o padre recordou aos pais que pedindo o batismo para os próprios filhos, assumiriam o compromisso de os “educar na fé”. Esta tarefa foi recordada, a todo momento, aos pais e padrinhos. Depois dos diversos exorcismos, orações de libertação do mal, as crianças receberam o sopro e o sal, dois símbolos eloquentes da vocação daquele que é batizado: o sopro é o Espírito, Aquele que dá vida e o sal nos lembra a missão de atuar no mundo, não de maneira insossa, mas temperada, isto é, de forma moderada, autêntica e para o bem.

  Muitos batizados na Igreja negam seu batismo; se não por palavras, renunciando sua fé católica, o fazem por uma vida medíocre, feia, insensata e alheia à doutrina, à moral e à espiritualidade católica. Assim, podemos dizer que há uma verdadeira “crise de fé”. Celebra-se, mas não se vive o que se celebra, nem se crê naquilo que é celebrado. Há uma leva de cristãos amortecidos, ocos, esmaecidos, sem vida, que perambulam por aí como se soubessem do caminho, mas na verdade, nem caminham, se arrastam. Há os que se arrastam no casamento, os que se arrastam na castidade; os que se arrastam na oração, os que se arrastam no trabalho... Enfim, apenas passam os anos, mas não vivem os anos. Reclamam de tudo e todos e a todos culpam por sua situação, mas não movem uma palha para mudarem suas vidas. O que aconteceu com essa gente? O batismo que receberam não valeu? O Espírito Santo que receberam não existiu? Não, não foi a graça de Deus que foi pouca, mas pouca a resposta à graça. Receberam o batismo, mas os dons foram sufocados, as graças perdidas e a fé violada.

  Queridos filhos, ao meditarmos hoje sobre o Batismo, esse sacramento extraordinário, que é “porta de todos os outros sacramentos”, a Liturgia nos propõe o núcleo de toda a nossa vida e vocação: se formos fiéis ao dom que recebemos no dia do nosso Batismo, seremos santos. Com sua dinâmica de morte e vida, somos chamados a morrer para o pecado e a viver para o Cristo e a buscar, como nos ensinou São Paulo, as coisas do alto. Você, como batizado, tem pensado nas coisas do alto? Tem pensado nas coisas de Deus? Tem tentado ser no mundo sal da terra e luz do mundo, mudando tudo ao seu redor para melhor?

  Batizamos essas crianças, mas caberá aos pais e a seus padrinhos comprometerem-se a alimentar com as palavras e com o testemunho da sua vida as chamas da fé que essas crianças receberam. Só assim, quando forem maiores, poderão pronunciar com plena consciência a profissão de fé. Que a Virgem Maria, a Mãe dos batizados, possa interceder por nós, tornando-nos filhos de Deus de fato e não apenas por palavras. Possa ela nos ajudar a trilhar o caminho de vida de seu Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo. Amém!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Você pode deixar seu comentário ou sua pergunta. O respeito e a reverência serão sempre bem vindas.